Futebol brasileiro ficou engrandecido com a final da Libertadores. Mérito de Santos e Palmeiras
Em uma fase de baixa qualidade técnica no geral, o futebol brasileiro ficou engrandecido com a final da Copa Libertadores da América entre Santos e Palmeiras. Pode parecer curioso, mas a experiência nos ensinou que a Libertadores é uma competição completamente diferente dos outros torneios que os times estão acostumados a jogar.
É até surpreendente que alguns clubes tradicionais ainda não perceberam que os campeonatos têm alma própria. Não é aconselhável jogar a Libertadores como se joga um Estadual. No torneio continental as partidas são disputadas com uma rivalidade entre equipes, países, estilos e características peculiares. Por isso, os dois finalistas desta temporada mereceram chegar a decisão programada para o Maracanã porque souberam interpretar o espírito da competição e realizaram as melhores campanhas.
Também ajuda a motivar o acontecimento se recordarmos do passado glorioso dos dois adversários em passado profundo. Para quem viveu a década de 1960, como eu, não deve ser difícil lembrar dos grandes jogos proporcionados pelas verdadeiras escolas de futebol representadas por Palmeiras e Santos.
Não foi à toa que se apelidou o time do antigo Parque Antarctica de “Academia do Futebol”, exatamente pela excelência dos jogadores, das apresentações e dos títulos conquistados. Invariavelmente dirigido por Oswaldo Brandão, Filpo Nuñes ou Rubens Minelli, o Palmeiras lotava todos os estádios e dava verdadeiras aulas de futebol arte.
O Santos tinha Pelé e isso talvez bastasse para explicar o seu grande sucesso naquela década de ouro para o futebol brasileiro. Mas o Santos tinha mais, pois além do maior jogador de todos os tempos conseguiu reunir personagens lendários como se tornaram Gilmar, Calvet, Carlos Alberto, Zito, Lima, Dorval, Mengalvio, Coutinho, Pepe e outros que foram chegando.
Mesmo tendo o gordo Lula como treinador, um tipo exótico que praticamente encontrou o estilo de jogo para aquele grupo maravilhoso, e só tinha o trabalho de distribuir as camisas no vestiário.
Os times de hoje são diferentes daqueles tempos românticos. O Palmeiras foi moldado por Felipão, com mudanças introduzidas por Vanderlei Luxemburgo e, agora, lapidado pelo português Abel Ferreira. Não é um time para dar espetáculo. Trata-se de um time bem estruturado e altamente competitivo, com algumas individualidades reluzentes do meio de campo para frente.
O Santos não é diferente. Longe de ser uma equipe elaborada para dar recitais de bola, trata-se de grupo verdadeiramente coeso que atua a imagem e semelhança do vibrante treinador Cuca. Além da definição tática do time, o paranaense Cuca teve a capacidade de isolar os jogadores dos problemas políticos, administrativos e financeiros que abalam Vila Belmiro há tempos.
Foi um triunfo do trabalho e da perseverança sobre as inúmeras dificuldades que o cercaram ao longo dos últimos meses. Diante disso, parabéns aos finalistas e, usando antigo clichê, que vença o melhor.
Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...