Há 35 anos, um grupo de atleticanos quase vendeu a Baixada
A inesperada derrota do Coritiba e a consequente eliminação da Copa do Brasil para o Águia Marabá foi consequência da alto suficiência dos jogadores e, sobretudo, da imperícia dos atacantes para liquidar a fatura no primeiro tempo. Depois, o Coxa deu um vexame completo.
Mas, o tema de hoje tem a ver com a surpreendente convocação do Conselho Deliberativo do Athletico para mudar o nome do estádio Joaquim Américo Guimarães para Mario Celso Petraglia. Não entro no mérito, afinal o atual presidente é merecedor de homenagens pelo trabalho realizado, mas o momento é absolutamente inoportuno pela grandiosidade da data que se aproxima: o centenário do clube.
Esta atitude do presidente do Conselho Deliberativo tumultuou as festividades do centenário pela ausência de maiores esclarecimentos e falta de respeito para com os homens que construíram o clube nas suas primeiras décadas.
Esse fato me fez recordar de que há 35 anos um grupo de atleticanos quase vendeu a Baixada. O plano era vender o estádio Joaquim Américo Guimarães e ficar definitivamente jogando no estádio Pinheirão.
Em 1989, alguns dirigentes e conselheiros estavam dispostos transformar a área onde atualmente se encontra a Ligga Arena em gigantesco shopping center cercado por quatro torres de edifícios com apartamentos. Entendiam que seria uma forma de viabilizar economicamente o clube, tradicionalmente envolvido em crises financeiras como de resto a maioria absoluta dos grandes clubes brasileiros. Pelo contrato que seria celebrado, durante 100 anos, o Athletico jogaria no estádio da Federação Paranaense de Futebol.
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O presidente da época, Valmor Zimermann, analisou a proposta apresentada pelo mesmo grupo empresarial que estava edificando o estádio Pinheirão. Todo o esforço mercadológico do estádio no Tarumã visava sensibilizar diretamente os atleticanos para que adquirissem camarotes, cadeiras e locais no estacionamento. O assunto foi levado ao Conselho Deliberativo e diversos conselheiros se posicionaram contra a ideia de apagar a história da Baixada.
Os debates tornaram-se acalorados e após três assembleias não se chegou a um consenso. Preocupado com a polêmica e, pessoalmente convencido de que jamais a torcida aceitaria perder a velha Baixada como campo de futebol, Valmor Zimermann sugeriu que se formasse uma comissão especial para estudar o caso com poderes absolutos para qualquer decisão.
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O Conselho Deliberativo nomeou como membros da comissão os conselheiros Ari Queirós, na época vice-governador do Estado do Paraná; Nelson Fanaya, diretor do Banco Bamerindus; Segismundo Morgestern, ex-secretario de Estado e diretor da indústria Malas Ika; Julio Gomel, médico e ex-diretor do clube; Anfrisio Siqueira, funcionário público aposentado e presidente da sociedade civil Boca Maldita e, eu, jornalista, convidado para integrar o grupo como representante da torcida atleticana.
Fiquei meio sem jeito, mas aceitei o pedido e fui à reunião em ampla sala reservada no Hotel Mabú, na praça Santos Andrade. Havia cerca de 50 pessoas, entre dirigentes e conselheiros do clube interessados no negócio, o presidente Onaireves Moura, da Federação, e uma meia dúzia de representantes da empresa Sisal, autora da proposta desafiadora. Foi apresentada uma grande maquete do empreendimento na Baixada, a conhecida maquete do Pinheirão para utópicos 120 mil espectadores e começou o show com a projeção de imagens e variadas explanações técnicas dos engenheiros.
Após duas horas de muitas argumentações, convidaram-nos para analisarmos a proposta em uma sala anexa. Nos olhamos e em menos de dez minutos saímos e informamos a todos os presentes da decisão. Fui escolhido como o porta-voz da comissão e falei da tradição do clube, dos homens que viveram intensamente o clube e construíram a sua história e que jamais o Furacão deveria abdicar de jogar no gramado do estádio Joaquim Américo Guimarães. Finalizei acrescentando que o terreno da Baixada era intocável por se tratar de patrimônio inalienável da família atleticana.
De todos os presentes, permaneceu apenas o presidente Valmor Zimermann que se mostrou aliviado e feliz com a decisão, nos acompanhando no jantar que foi servido no restaurante do hotel.
Este episódio nos ensina que uma simples deliberação pode mudar o destino de um projeto eterno.
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Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...