Futebol virou business e desrespeita o apaixonado torcedor. Tudo mudou: é só dinheiro
O futebol foi um negócio pequeno até a metade da década de 1980. Quando percebeu que tinha nas mãos um grande “business” o então presidente da FIFA, brasileiro João Havelange, virou o jogo à partir da Copa do Mundo no México, em 1986.
Dali em diante o futebol nunca mais foi o mesmo. Com a
exigência da construção de grandes arenas, verdadeira revolução nas relações
dos clubes e confederações com as redes de televisão na busca de verbas
bilionárias, contratos com patrocinadores do mundo inteiro, criação de modernas
ligas nacionais e, é lógico, a inflação no valor do passe dos jogadores
profissionais.
Os empresários e representantes de jogadores passaram a
ocupar um lugar de destaque nas negociações, dezenas de cartolas se corromperam
através das décadas, o padrão técnico da maioria dos times médios e pequenos
baixou pelo êxodo de craques para os grandes mercados, as tabelas de jogos dos
campeonatos passaram a ser organizadas pelas redes de televisão, conforme os
seus interesses comerciais e, consequentemente, o futebol tornou-se um programa
banal com partidas sendo transmitidas diariamente, em diversos canais.
O futebol virou “business” e desrespeita o torcedor.
Sobretudo aquele torcedor apaixonado que se liga emocionalmente com o seu time
de coração.
Se antigamente os ídolos ficavam jogando na mesma equipe e
tornavam-se verdadeiros heróis aos olhos da torcida, hoje em dia tudo mudou: é
só dinheiro.
Tudo se acelerou, a começar pelo tempo de uso da mercadoria
– o atleta -, o de virar trabalho em lucro rapidamente.
O futebol brasileiro que se sobressaiu mundialmente graças
aos craques revelados, começou a perder espaço nos jogos de Copa do Mundo por
não conseguir reunir mais uma seleção a altura das suas tradições.
Com treinadores medíocres, mais falastrões do que
comandantes eficientes, e jogadores cada vez mais ricos, mais vaidosos e
tecnicamente distantes das gerações anteriores, a seleção brasileira continua
perdendo prestígio.
Também contribui para o desgaste dos times os péssimos calendários organizados pela Conmebol e CBF e os amistosos da seleção brasileira.
Basta verificar os atropelos de jogos em competições
superpostas e o absurdo representado pela cópia lamentável do sistema europeu
com a realização de apenas um jogo para decidir a Copa Libertadores da América.
A Conmebol caminha no sentido inverso: no momento de ganhar
dinheiro com duas partidas festivas – no caso atual, um Flamengo e River Plate
no Maracanã e outro no Monumental de Nuñes – resolveu marcar uma única partida
para Santiago.
Como a ética, a moral pública, o equilíbrio democrático dos
governos e o desenvolvimento social na América do Sul – e América Latina por
extensão – também caminham na contramão o quebra-quebra no Chile provocou nova
mudança.
Agora a final será em Lima, no Peru. Lá, o governo já fechou o Congresso Nacional e o Supremo
Tribunal Federal, evitando, segundo cálculos dos peruanos, novos confrontos nas
ruas e nas cidades do país.
Pobre subcontinente sul-americano! Pobre futebol sul-americano empobrecido!
Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...