O futebol passa por momento sombrio
Há muito tempo que o futebol deixou de ser um modelo de transparência.
Basta acompanhar o noticiário policial dos últimos anos apontando irregularidades na FIFA, confederações continentais e nacionais, dos principais países envolvidos no multimilionário negócio chamado futebol.
Quando não corria tanto dinheiro era diferente.
Os dirigentes se apresentavam como idealistas e eram reconhecidos publicamente como benfeitores. Alguns até se igualavam em idolatria aos grandes jogadores.
Mas, nas últimas três décadas, com a completa comercialização de todos os eventos de futebol, começaram a surgir as denúncias que correm pelo mundo de negociações nebulosas, de investidores obscuros, de grupos que controlam jogadores, clubes e associações. O esporte mais popular do planeta passa por um momento sombrio.
Os reflexos dos novos tempos podem ser observados dentro de campo com a inegável queda da qualidade técnica dos espetáculos.
Dá para contar nos dedos as verdadeiras partidas bem disputadas perante o imenso volume de atrações exibidos pelas mais diversas redes de televisão a cabo durante o dia inteiro.
Para ficarmos apenas com o exemplo doméstico, tentemos eleger os melhores jogos do atual Campeonato Brasileiro. Não foram muitos até agora. Além da escassez de novos talentos e da regularidade técnica dos times. Sem esquecer do baixo nível das arbitragens que continuam representando fonte de muitas reclamações após cada nova rodada.
Na questão da regularidade basta examinar a dificuldade que os principais candidatos ao título da temporada nacional encontram para manter-se nas primeiras posições. A classificação parece um pau-de-sebo: a cada momento surge novo líder na competição.
Para agravar o problema temos os torneios superpostos que esgarçam o calendário e azucrinam o planejamento de treinadores e membros das comissões técnicas. Além, é claro, do desgaste físico dos atletas.
O maior complicador é a insistência, exclusivamente política para atender aos interesses das federações regionais, da manutenção dos campeonatos estaduais nos anacrônicos moldes em que são disputados. Em vez de ser uma bela festa do interior, continuam envolvendo também os clubes envolvidos nas principais séries nacionais e nas competições continentais.
Não há planejamento que resista a tantos compromissos no ano.
Como consequência do desajuste no calendário, assistimos coisas esdrúxulas como o jogo entre Vasco da Gama e Santos, disputado pelo segundo turno do Campeonato Brasileiro antes de as mesmas equipes terem se enfrentado pelo primeiro turno do mesmo Brasileirão.
O motivo da suspensão da contenda anterior, originalmente marcada para o final de abril, foi uma coincidência de datas com a Copa Libertadores, o mais importante torneio continental.
O episódio é apenas mais um exemplo da falta de organização que há décadas se observa no esporte mais popular do país.
Até agora, CBF e clubes não iniciaram uma discussão séria, efetiva e profissional para transformar de uma vez por todas o superado calendário do futebol brasileiro.
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Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...
