Futebol brasileiro parou no tempo. Estaduais revelam a mediocridade no início da temporada
Os campeonatos estaduais refletem, claramente, a grande distância que marca o atual futebol brasileiro e o futebol europeu. Não foi por acaso que o Flamengo foi derrotado pelo Liverpool, na final do Mundial de Clubes, no Qatar.
Tem sido assim nos confrontos entre os campeões continentais da Europa e da América do Sul. No passado era ao contrário: os sul-americanos é que ficavam com a taça.
Os campeonatos estaduais sub-existem apenas como ferramenta
política da CBF com as federações estaduais, nada mais do que disso. Federações, aliás, anacrônicas e completamente superadas em
termos de criatividade, organização e capacidade para realizar grandes
torneios.
Com a Globo pretendendo diminuir os prejuízos, alguns estaduais, como o Paranaense desta temporada, deixaram de ser exibidos, aumentando o desgaste financeiro e falta de prestígio para todos.
O futebol brasileiro parou no tempo e no espaço. Continua apenas sendo fonte reveladora de bons jogadores. Alguns poucos ótimos, que servem apenas para confirmar a regra.
Pela falta de estrutura geral em nosso país – Governos
deficientes, organização do Estado superada, classe política desmoralizada, o
sucesso da operação Lava Jato, corrupção, etc. – os jogadores estão indo embora
antes de completar 18 anos. Tem menino partindo para o exterior com 13, 14 anos,
pois os clubes de fora descobriram que, além de lapidar o futebolista,
tornou-se importante formar o homem.
Messi, por exemplo, foi para o Barcelona ainda garoto e deu
no que deu.
As diferenças começam porque os grandes clubes europeus são
administrados por profissionais especializados e extremamente competentes,
inclusive alguns ex-jogadores de nível profissional e cultural notórios. Coisa
que não acontece no Brasil.
Os clubes nacionais são dirigidos por cartolas despreparados
e, não raras vezes, irresponsáveis na gestão financeira deixando quase todos à
beira da falência.
Os nossos ex-jogadores tem se revelado culturalmente extremamente
básicos e despreparados para as exigências na função de CEO.
Até os profissionais formados em escolas especializadas com
cursos de preparação também, em sua maioria, não conseguem apresentar as
qualificações exigidas para o desempenho do cargo.
Os próprios treinadores brasileiros estão colocados em
cheque diante da estagnação tática e técnica dos nossos times.
Outro aspecto que torna o futebol europeu muito superior são
a organização e os orçamentos, produto não apenas de arrecadações sempre compensadores
nos estádios e pelas verbas da televisão, mas, principalmente, de
patrocinadores importantes, além de marketing bem elaborado.
Seus estádios, proporcionais às cidades onde se encontram,
com média de público nunca inferior à metade de sua capacidade, revelam luxo e
conforto proporcionando aos seus associados mais sofisticados, que pagam caro
por camarotes, poltronas estofadas e mordomias em geral. Em praticamente todos
os estádios existe um, ou em alguns casos mais de dois, restaurantes
finíssimos, que servem durante os espetáculos.
Os calendários são inteligentes e permanentes, o que permite
a venda antecipada dos ingressos, inclusive com descontos pela fidelidade do
sócio.
Por tudo isso, vendo a mediocridade dos campeonatos estaduais que abrem o ano esportivo não é difícil constatar que o futebol brasileiro está muito atrasado.
Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...