É grave a crise de credibilidade dos técnicos brasileiros
Antes que comecem as grandes competições – fases decisivas
da Copa do Brasil, Campeonato Brasileiro, Copa Libertadores da América e Copa
Sul-Americana -, deve-se fazer algumas reflexões sobre um assunto preocupante:
a perda de prestígio da maioria dos treinadores brasileiros.
Podem ser apresentados diversos motivos, mas é grave a crise
de credibilidade dos técnicos brasileiros.
Perderam espaço nos grandes clubes, não conseguem firmar-se
nos times de médio porte e começam a ficar desempregados em quantidade acima do
normal.
Tenho uma opinião a respeito do fenômeno: inicia-se pela
queda vertiginosa do padrão cultural do país nos últimos trinta anos.
Claramente falta de um planejamento eficiente para o ensino
público em todos os níveis e o Brasil afundou.
Basta observar o preocupante nível profissional da maioria
dos formados pelas universidades públicas e privadas nas últimas décadas.
O que sabemos sobre os jogadores de futebol que surgem no Brasil? Nada.
Pertencem a um mundo quase paralelo inteiramente
desconhecido para gente de classe média com acesso aos estudos, moradia digna,
carro próprio e uma vida normal.
Ainda meninos, extremamente humildes, são levados as escolinhas
e aos centros de formação dos clubes e se sobressaem por saber jogar bem
futebol.
Alguns grandes clubes prestam trabalho exemplar, tratando da
alfabetização e desenvolvimento cultural dos jovens atletas, inclusive com
aplicação de aulas de inglês, francês e outros idiomas.
Felizes aqueles que conseguem se destacar em todos os
sentidos neste moderno conceito esportivo. Tornam-se ricos e podem assistir
materialmente as suas famílias.
Muitos deles encontram conforto na religião para fugir dos males
que vêm com a fama.
Depois de encerrar a carreira, diversos tentam a profissão
de treinador e aí começa o problema, pois se trata de uma atividade
completamente diferente, que exige múltiplas experiências e inspirações.
Nem todos conhecem as evoluções estratégicas, muito menos
possuem carisma e liderança para o comando, enfim o conhecido arsenal de
predicados imprescindíveis para quem quer se tornar um bom técnico de futebol.
E os cursos de aperfeiçoamento não ajudam muito os
candidatos a nova profissão.
Melhor formados na base escolar e familiar de seus países, o
futebol brasileiro tem sido invadido por técnicos portugueses, argentinos e de
outros países com facilidade de comunicação em nosso idioma.
O problema é mais sério e muito mais profundo do que se
imagina, diante da desinformação e profundo semi-analfabetismo da maioria da
nossa população.
É a velha continha: dois e dois somam quatro. Ou um ditado
mais antigo: do couro sai a correia.
Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...