Mesmo adotando a SAF, Coritiba continua em crise
Futebol sempre foi associado a emoção, festa, democracia, catarse popular, válvula de escape, improviso, arte, picardia. Com o surgimento das torcidas organizadas com caráter institucional, logo após a conquista do tricampeonato mundial pela seleção brasileira em 1970, as reações e os sentimentos da arquibancada ganharam outros ingredientes. Alguns bons, a maioria nem tanto. Hoje se observa que o profissionalismo das tais torcidas organizadas e a absoluta mercantilização do futebol tornou os clubes reféns de um novo modelo que se desenhou há cerca de 25 anos.
Foi-se o tempo da liberdade e paixão - o amor incondicional ao time - e outros que se perdem com o apito final do árbitro: xingamentos a técnicos, jogadores, árbitros e até para a crônica esportiva falada, escrita e televisionada...
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Aos poucos, forças estranhas tomaram conta dos clubes, com o absoluto interesse comercial predominando sobre o amadorismo e mesmo a essência eminentemente esportiva da atividade futebolística. Com a edição da Lei Pelé, os clubes perderam o controle sobre o passe do jogador, que passou a ser propriedade dos agentes e empresários, tornando o atleta mais frio e, muito provavelmente por deficiência das categorias de base, com menor brilho técnico. Está aí a seleção brasileira decepcionando a todos nas últimas cinco copas disputadas.
Os clubes que não se atualizaram e implementaram conceitos gerenciais modernos naufragaram. Foi o caso do Coritiba que só tinha a alternativa da SAF – Sociedade Anônima do Futebol - para não afundar de vez. Só que mesmo adotando a SAF, o Coritiba continua em crise.
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Houve muitos erros na gestão do futebol coxa-branca na temporada passada, inicialmente com a escolha equivocada de treinadores, más contratações de jogadores e talvez o problema mais grave tenha sido causado por Alef Manga, envolvido na lamentável história que todos conhecem.
Com problemas de gestão, o CEO Carlos Amodeo assumiu os equívocos que remeteram o Coxa para a Série B do Brasileirão, mudou a comissão técnica, trouxe de volta Guto Ferreira e as contratações de reforços foram melhor avaliadas.
Mas tudo mudou com o inesperado e profundamente lamentável falecimento do diretor Junior Chávare. Uma nuvem de tristeza cobriu o Alto da Glória, agravada pela desconcertante eliminação da Copa do Brasil e uma derrota em Cascavel que escancarou o abalo emocional que tomou conta do grupo de jogadores.
Os dirigentes e, sobretudo, o técnico Guto Ferreira, terão muito trabalho pela frente. Primeiro, para desenvolver um processo de motivação do elenco para recuperar a postura tático-técnica em campo na fase decisiva do Campeonato Paranaense e, ao mesmo tempo, calcular bem os prós e os contras do possível retorno de Alef Manga.
Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...