Clubes recuam no projeto de futebol empresa. Recomenda-se mesmo ir devagar
Em reunião realizada na sede da CBF diversos clubes da Série A decidiram ir devagar com o projeto que tramita na Câmara Federal que prevê transformar clubes de futebol em empresas. Sinal de que a maioria não está preparada para a inovação.
Originalmente, a meu ver, a ideia é positiva, pois elevará o futebol brasileiro a outro patamar, compatível com a modernidade do futebol europeu, por exemplo.
Porém, e no Brasil sempre há um porém, em todas as matérias pautadas, tudo depende da eficácia de uma lei específica – em discussão no Congresso – que reflita o que existe de mais moderno em termos de regulação do futebol.
De largada, não se pode partir da premissa que todos os clubes devam ser, prioritariamente, veículos de investimento, quando, na sua absoluta maioria, continuarão a se constituir em entidades sem fins lucrativos.
Até que se prove o contrário, os times de futebol são vocacionados a prática esportiva, ao lazer e a diversão pública dos aficionados e associados.
Se existem dirigentes espertos querendo encher os bolsos nas lucrativas transações do esporte mais popular do planeta é outra questão. Claro que alguns defendem o continuísmo sob o manto da modernidade.
Entretanto, pelo que dá para observar no panorama geral, a maioria absoluta dos cartolas luta com extrema dificuldade para manter os seus clubes funcionando dentro de padrões mínimos de qualidade, eficiência e sem risco de diminuir de tamanho.
Entendidos nesta parte, devemos ter em mente que o fundamental para o sucesso da proposta é a segurança jurídica.
Sem legislação que delimite o regime jurídico para as múltiplas relações e atividades desenvolvidas por um clube a transição torna-se impossível.
Para um país que já pagou para ver os efeitos das Leis Zico, Pelé e o Profut – Programa de Modernização da Gestão de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro – com resultados decepcionantes, recomenda-se ir devagar com o andor no projeto do clube empresa.
O Estado brasileiro demonstra ser incapaz de criar um marco regulatório adequado para lidar com as transformações profissionalizantes protagonizadas pelos países europeus.
Agora políticos e dirigentes esportivos mais atentos, e mais preparados do que a maioria, que revela dificuldade para entender as coisas, o projeto foi colocado em análise no Congresso Nacional.
Mas tudo precisa ser muito bem explicadinho para que depois de aprovada a lei não se torne um drama para os times de futebol pela inexistência de marco regulatório seguro e previsível.
Trocando em miúdos: precisamos identificar na cartolagem que domina a CBF, as federações estaduais e os clubes capacidade profissional e lisura moral e ética para a gestão do futebol empresa.
Até porque, entre tantos detalhes, o modelo oferece programa de favorecimento fiscal e outros benefícios legais.
Tudo é muito bom e bonito, porém pela experiência histórica de projetos que surgiram modernizadores e revolucionários, mas que fracassaram em diversas áreas do nosso país, repito que é aconselhável analisar com profundidade o passo a ser dado.
Depois que os clubes forem transformados em empresas não tem volta. Pelos mais diversos motivos se alguma coisa não der certo, o seu time fechará as portas como qualquer sapataria, padaria ou lojinha da esquina.
Na teoria o projeto é maravilhoso, mas na prática precisamos identificar até que ponto os dirigentes estão preparados, em todos os quesitos, para gerir um negócio tão rentável, mas com alto risco à partir do instante que o clube deixar de ser uma entidade sem fins lucrativos para ingressar no mercado competitivo, sem alma e sem paixão clubística.
Será um adeus as ilusões sem caminho de volta.
Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...