Futebol: tradição, negócios, política e poder
A torcida da Fiorentina homenageou dignamente o capitão do time Davide Astori no seu sepultamento.
Imagens tocantes de reconhecimento ao ídolo, sentimento pelo prematuro falecimento e amor ao futebol que vai muito além dos gramados.
Apenas a metade do público normal nos jogos do Borussia Dortmund – média de 52 mil pagantes por jogo – compareceu a primeira apresentação marcada pela Bundesliga para uma segunda feira. Antes, a torcida do Eintrackt Frankfurt atirou bolinhas de tênis sobre o gramado em protesto pela programação de futebol na segunda feira. Segundo os torcedores a tradição foi quebrada em troca de mais dinheiro oferecido pela televisão.
A realidade é que os interesses econômicos e financeiros são tão influentes que até o centenário costume de os ingleses não jogarem aos domingos – Never on Sunday, diziam – foi para o espaço.
Os times da Inglaterra jogam praticamente todos os dias. Basta ligar a televisão num canal esportivo e lá estão eles correndo atrás da bola e, obviamente, do dinheiro da tv. Esta, por sua vez, trata dos seus interesses comerciais e colocou o futebol na grade de programação como atração popular.
Mesmo nos horários mais estranhos, como acontece nos campeonatos brasileiros e sul-americanos, a bola rola.
Mas está diminuindo a freqüência do público na maioria dos estádios, reduzindo a média de pagantes e, inevitavelmente, caindo o padrão técnico das partidas pelo excesso de participações no discutível calendário organizado pelas confederações.
Basta acompanhar o aumento no número de jogadores lesionados. Como consequência os médicos foram colocados em xeque pelos cartolas. A diretoria do Santos, por exemplo, dispensou o departamento médico inteiro por considerar demorada a recuperação dos atletas machucados.
Ó tempora ! Ó mores !, já dizia Cícero com as mudanças na sociedade romana.
Mas a política no futebol segue em frente e a luta pelo poder é interminável.
Se a seleção de Tite conseguiu recuperar o prestígio com a campanha nas eliminatórias para a Copa do Mundo, fora de campo a crise na CBF permanece.
José Maria Marin, ex-presidente da entidade nacional, cumpre prisão nos Estados Unidos. Seu antecessor Ricardo Teixeira foi indiciado pela Justiça norte-americana por fraudes. Marco Polo Del Nero, atual presidente licenciado, foi investigado pelo Comitê de Ética da FIFA e suspenso pela entidade internacional.
Porém, mesmo sem sair do país para jogos da seleção ou mesmo eventos e reuniões na Conmebol ou na FIFA – imagina-se que por receio de ações do FBI -, Del Nero trabalha para eleger como sucessor alguém da sua confiança.
O que chama atenção é o silêncio e a conivência dos grandes clubes brasileiros que não se manifestam sobre os graves acontecimentos registrados na CBF nos últimos anos.
Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...