Opinião

O ousado voo do futebol brasileiro contra a televisão

Por
Carneiro Neto
03/07/2020 14:25 - Atualizado: 29/09/2023 23:14
Disputa entre Flamengo e Globo teve impactos profundos no Campeonato Carioca
Disputa entre Flamengo e Globo teve impactos profundos no Campeonato Carioca | Foto: Divulgação/Flamengo

O ex-jogador de futebol, intelectual e escritor Albert Camus lapidou uma frase que nunca mais saiu da minha mente:

“Cada geração se crê destinada a refazer o mundo. A nossa, entretanto, tem uma tarefa bem mais importante: a de impedir que o mundo se desfaça”.

Contextualizada no pós-Segunda Guerra Mundial e sob a ameaça da Guerra Fria, entre democracia e comunismo, a frase é perfeitamente adaptável aos dias atuais.

No caso deste espaço, torcemos para que os novos dirigentes e investidores impeçam que o mundo do futebol perca o encanto. Ou, por outra, que o futebol seja reduzido a um simples bom negócio.

Lá se foi o tempo em que o cronista de futebol escrevia apenas sobre futebol. Somente sobre o que acontecia dentro das quatro linhas do gramado.

Não por acaso, foi o tempo em que o futebol brasileiro conquistou os seus maiores troféus, o reconhecimento internacional e revelou os melhores jogadores de todos os tempos, como Pelé, Didi, Garrincha, Romário, Ronaldo e mais alguns que permanecem no imaginário popular.

Troféus, como sabemos, podem ser fruto até do imponderável, como o surgimento de verdadeiros gênios da bola. Mas a manutenção do prestígio exige preparo empresarial e intelectual dos dirigentes, dos treinadores e dos demais profissionais que vivem em torno do grande business chamado futebol.

Hoje em dia, tão importante como um técnico capaz é a presença de um exímio administrador de finanças e negócios em qualquer clube de grande ou médio porte.

O relacionamento com investidores, patrocinadores, vendedores de produtos relacionados ao clube e, sobretudo, tratativas com as redes de televisão tornaram os executivos especializados tão disputados quanto os craques da bola.

Os grandes jogadores rarearam no futebol brasileiro ultimamente, tanto que a seleção vai emplacar vinte anos e cinco copas sem o título mundial.

O futebol praticado pelos nossos times é de baixo rendimento e, por isso mesmo, perderam mercado ao ponto de dependerem diretamente do dinheiro destinado pela tevê.

Sim, foi a tevê, à partir da década de 1980 na Europa e da década de 1990 no Brasil, que revolucionou o negócio.

Graças à exposição de imagens, marcas, etc., foi que o mais popular esporte do planeta passou a ser rentável ao ponto de a Premier League inglesa ser o grande exemplo de sucesso econômico no universo dos espetáculos.

Agora o futebol brasileiro está em crise com a principal fonte de arrecadação e tradicional investidora no esporte, a Rede Globo de Televisão.

Amparados por uma Medida Provisória do Governo Federal, que certamente merecerá análise mais profunda no Congresso Nacional, alguns clubes acreditam que podem sobreviver sem a verba da tevê. Tenho dúvidas.

Se eles demonstram grandes dificuldades para manter o cotidiano da maioria dos clubes, com salários e premiações em dia, equilíbrio financeiro e fiscal, marketing, merchandising, enfim todo o arcabouço administrativo natural de qualquer empresa, imaginem chegar ao ponto de dispensar contratos milionários para criar um canal transmissor próprio.

O canal até pode ser criado, tanto que diversos clubes já o possuem, mas a pergunta que faço é se terão capacidade de torná-lo rentável para que possam substituir a tevê convencional. Bem, vamos acompanhar o ousado voo do futebol contra a televisão.

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Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...

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