Futebol na TV após a MP assinada por Bolsonaro: o futuro a Deus pertence
No começo do profissionalismo, na década de 1940, o futebol vivia exclusivamente das rendas dos jogos.
E foi assim até que surgiu a pequena verba da Loteria Esportiva, seguida da autorização de propaganda nas camisas dos times, negociação de jogadores para o exterior até chegar ao amplo predomínio da televisão sobre o mais popular esporte do planeta.
No passado profundo havia os mecenas que tiravam dinheiro do bolso para ajudar os times.
Via de regra, pagando gratificações por grandes vitórias ou títulos conquistados. A maioria dos jogadores sonhava em conseguir um emprego, público ou na iniciativa privada, dependendo da influência política dos dirigentes no clube em que jogava.
O Ferroviário, por exemplo, empregava os seus jogadores na Rede Viação Paraná-Santa Catarina até que se transformou em Rede Ferroviária Federal.
E deixou de existir num dos maiores equívocos da administração pública brasileira. Um país com dimensões continentais sem transporte ferroviário.
O Primeiro Mundo transporta cargas e passageiros pelos trilhos há 150 anos sem parar. Parece inacreditável, mas é a nossa dura e triste realidade.
Tudo por conta dos maus costumes dos políticos para beneficiar a indústria automobilística que se instalava e os empreiteiros na construção de estradas de rodagem.
Os mesmos empreiteiros de obras públicas que encheram os bolsos na contraditória construção de Brasília. E também a mídia da época de Juscelino Kubitschek que faturou alto com loas como “Nova Cap”, “Bela Cap”, “Candangos em ação”, “Presidente JK, Presidente Bossa Nova”.
Em vez de investir em infra-estrutura, saúde, segurança, transporte, educação, gastou-se uma fortuna incalculável para a construção daquele templo de corrupção em que se transformou a nova capital federal.
Voltemos ao futebol.
Os clubes brasileiros encontram-se hoje em situação deficitária. Nada a ver com a pandemia do coronavírus. A maioria já estava quebrada antes de a bola parar de rolar.
Flamengo, Palmeiras e Athletico foram exceções apresentando superávit em seus balanços. A falta de gestão profissional e de um arcabouço jurídico de responsabilização dos dirigentes redundou em dívidas impagáveis.
O modelo de propriedade associativo, com gestão amadora, demonstrou-se inviável financeiramente.
Nosso sistema hoje é composto por sócios que detêm um título de voto, com o qual elegem um presidente de uma associação sem fins lucrativos.
Pois bem, a Medida Provisória assinada nesta semana o Governo Federal abriu a possibilidade de o clube mandante ter todos os direitos sobre a transmissão da partida.
Ou por outra: abriu-se a possibilidade de o clube mandante escolher se fecha contrato com a televisão aberta ou pay-per-view; ou se passa o jogo na sua própria plataforma de streaming.
Como existem contratos em vigência, com a Rede Globo e a Turner, é melhor esperar para ver como as coisas vão ficar.
Colocando-se exclusivamente no lugar do torcedor, no caso do telespectador, sentadinho na poltrona em frente ao aparelho retransmissor, dá para dizer quanto ao futebol na televisão: o futuro a Deus pertence.
Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...