Está ficando difícil falar do futebol brasileiro hoje em dia
O São Paulo veio se arrumando, tática e tecnicamente; o técnico Fernando Diniz finalmente se convenceu dos equívocos estratégicos que vinha cometendo; o Tricolor do Morumbi cresceu jogo a jogo, tanto que as suas ações subiram depois de três passeios no poderoso Flamengo e pintou como candidato ao título da temporada. Veio o jogo com o Corinthians e acabou tudo.
O São Paulo voltou a ser um time inseguro, confuso e os veteranos, como Daniel Alves e Juanfran, não jogaram nada e a derrota deixou uma gigantesca pulga atrás da orelha dos torcedores e dos analistas de futebol.
Positivamente está ficando cada vez mais difícil falar do futebol brasileiro, com um mínimo de margem de erro, hoje em dia. É melhor tratar de lacrosse.
Lacrosse, para quem nunca ouviu falar, originalmente era um jogo dos índios da América do Norte, uma espécie de hockey jogado com longas raquetes que parecem cestas. Para os indígenas, o jogo representava a luta entre vivos e mortos.
O resultado era conhecido de antemão: os mortos tinham que vencer ou então almas penadas continuariam a perseguir os vivos. Na Idade Média, os esportes reproduziam a guerra. Cavaleiros se lançavam uns contra os outros com grandes lanças à mão.
Quando o lacrosse se tornou um dos esportes americanos contemporâneos, converteu-se em competição entre duas equipes, com resultado a ser estabelecido em campo. Ganha quem fizer mais pontos. Como todos os jogos de hoje, representa a concorrência entre os participantes. O mais competitivo vence a partida.
É uma reprodução lúdica do cotidiano de uma sociedade moderna, preocupada com contagens, posse de bens materiais, pontos e concorrência para fazer mais ou melhor alguma coisa. Onde o mais ou o melhor pode ser contado, enumerado, transformado em taça de ouro e guardado na estante.
O esporte das sociedades modernas não se preocupa com nada transcendental como vivos e mortos, apenas com concorrência de dinheiro, poder e, é claro, pontos.
Ufa ! Parece que é mais fácil falar de lacrosse do que dos infortúnios de Athletico, Coritiba e Paraná...
Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...