Nem o futebol escapou de 2020, o ano da peste e da bola parada
Assim como os anos 1960 ficaram conhecidos como um tempo de revolta, os anos 1970 como a era de Aquário e dos grandes movimentos sociais, e os anos 1950 como a era do conformismo, a década de 1920 entrou para a história com um rótulo: os anos loucos.
E basta lançar um olhar sobre a época para constatar que a denominação é inteiramente correta.
Para começar havia uma boa razão para a frenética euforia que se apossou do mundo ocidental. A humanidade estava saindo de uma guerra devastadora em que países tinham se aplicado, com fúria meticulosa, à mutua destruição.
Milhões morreram, não só nos campos de batalha, como em conseqüência da gripe espanhola, a peste de 1918, que causou uma verdadeira devastação entre populações enfraquecidas e desamparadas.
Os anos 1920 foram como um renascer para as pessoas que sobreviveram a tantas desgraças ao mesmo tempo.
As roupas eram tentadoras, as danças escandalosas e todo mundo falava em Freud, que denunciara as sombrias conseqüências da moral vitoriana.
Ninguém como F. Scott Fitzgerald – O Grande Gatsby -, o maior ficcionista da década, escreveu sobre as incertezas, sonhos, prazer de viver e o maior surto de euforia em nossa história.
Como a Renascença européia, que se seguiu à peste negra e às guerras medievais, os anos 1920 viram uma extraordinária liberação sexual. E veio o jazz, surgiram pintores revolucionários, autores e poetas modernos, o cinema tornou-se um fenômeno de lazer, o rádio um companheiro inseparável e o mundo mudou.
Cem anos depois a humanidade enfrenta outra pandemia devastadora. Estamos em 2020, o ano do coronavírus e da bola parada. Um dia o micróbio maldito desaparecerá e não deixará saudades. Mas o estrago que provocou não encontra paralelo na história contemporânea.
Resta saber como será o amanhã. Provavelmente muitas fábricas, lojas, restaurantes e negócios em geral não abrirão mais as suas portas. Outros sobreviverão e um novo tempo surgirá no horizonte de todos nós.
Ficarão as lições de humildade, humanidade e solidariedade. Todos estão pagando um preço pelas conseqüências provocadas pelo descontrolado vírus chinês.
Nem o futebol escapou. Antes, pelo contrário, o futebol poderá ser uma das atividades mais prejudicadas pela paralisação forçada, com a perda de rendas, de associados nos clubes, de verbas da televisão, de patrocinadores que terão de rever os seus conceitos empresariais, enfim uma série de desdobramentos que preocupa todos os envolvidos no grande negócio da bola.
Pensando positivamente acredito que com o retorno dos jogos, desde que com publico nos estádios, pois sem torcida o futebol fica sem graça, em seis meses o processo de recuperação estará bem encaminhado.
A roda gigante da vida recomeçará a girar e, com fé e muito trabalho, tudo voltará ao normal. Amém.
Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...