Esperança de revolução no calendário morre na falta de ideias de dirigentes e CBF
Jamais alguém viu uma cabeça de bacalhau. O bacalhau deve ser o único peixe do mundo que já nasce sem cabeça, pronto para o consumo, e fica nadando lá no Mar do Norte, aguardando a Semana Santa.
Os pescadores, invariavelmente portugueses, o recolhem das águas e só têm o trabalho de salgá-lo ao comércio. Se alguém duvida, aqui fica a pergunta: você, caro leitor, já viu uma cabeça de bacalhau ?
Pois é, agora, no auge da crise provocada pela pandemia do coronavírus, com a bola parada no mundo inteiro, dirigentes, jornalistas e especialistas em geral discutem o calendário do futebol.
O mal formulado almanaque do futebol brasileiro, óbvio, pois na Europa a fórmula está pronta, ajustada e consagrada há décadas com amplo sucesso técnico e financeiro.
Mas dirigente de futebol no Brasil parece bacalhau: não tem cabeça. E, por não tê-la, consequentemente faltam idéias e algo que lembre inteligência na gestão dos clubes, na organização do calendário, na formulação dos campeonatos e torneios.
A exceção é a Copa do Brasil, uma competição enxuta, democrática, altamente rentável e com sucesso assegurado de público e crítica. O Brasileirão também poderia ser lucrativo, mas peca pela desigualdade técnica entre os competidores.
Essa realidade repete-se há várias temporadas quando, próximo do final do primeiro turno, observa-se cerca de oito times disputando as vagas para a Libertadores, mais quatro ou cinco tentando chegar pelo menos à Sul-Americana, dois ou três brigando diretamente pelo título e os demais no pau-de-sebo da luta contra o rebaixamento.
A única emoção praticamente garantida na parte de baixo é a de que sempre um dos chamados grandes clubes nacionais entra no rebolo e acaba caindo para a segundona.
Tornou-se uma enfadonha repetição, ainda mais agora que Flamengo e Palmeiras se distanciaram, economicamente, demais da maioria. Sem esquecer de que o nosso calendário é espremido pelos anacrônicos campeonatos estaduais além da superposição dos torneios continentais.
Mas, voltando à vaca fria, acompanhamos com interesse as discussões e propostas para a criação de uma folhinha mais racional para o nosso futebol.
O problema é que parece existir na porta de entrada da sala de reuniões da CBF o verso que Dante Alighieri viu inscrito às portas do Inferno na Divina Comédia: “Lasciante ogni eperanza, voi ch´entratea” – Deixai toda esperança, vós que entrais.
Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...