Bestiário do futebol brasileiro
Característicos da Baixa Idade Média, os bestiários eram textos recheados de belas iluminuras, catálogos detalhados de animais, em sua maioria, imaginários. Os religiosos se especializaram nos textos descritivos de criaturas naturais e fantásticas, com destaque ao Unicórnio, um tipo de animal indomável.
Modernamente, alguns autores promoveram coletâneas de contos com o mesmo estilo dos catálogos da Idade Média, descrevendo situações bizarras da condição humana tão próxima das bestas, do estado bruto dos animais.
A política, inevitavelmente, com o contumaz mau comportamento da maioria dos indivíduos que a praticam, ocupando cargos públicos ou mandatos eletivos, tem sido o principal alvo dos escritores.
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Tentemos criar um bestiário do futebol brasileiro. Personagens e figuras exóticas não faltam, dentro e, sobretudo, fora de campo. Comecemos pelo baixíssimo padrão das arbitragens do nosso futebol. Elas continuam muito distante do apito europeu, por exemplo.
Basta acompanhar as partidas dos principais campeonatos europeus ou da Liga dos Campeões, para comparar com a mediocridade da arbitragem brasileira.
Lá, os profissionais demonstram personalidade, autoridade e assumem as decisões sem a chatice de recorrer, a todo instante, às imagens da tela, para tirar dúvidas com o auxílio do VAR. O mesmo VAR, que apesar de toda a tecnologia colocada à sua disposição, no futebol brasileiro consegue cometer falhas bisonhas de interpretação.
Os gestores, então, fariam uma festa em qualquer bestiário, pois se comportam, em sua maioria, como personagens excêntricos e extravagantes. E não estou falando apenas daqueles que dirigem a CBF, responsáveis diretos pela decadência da seleção brasileira nos últimos anos.
Também pudera, com tantos escândalos na administração da CBF e o constante afastamento de presidentes por mau comportamento, não poderia mesmo ser diferente. Nos clubes, também se destacam algumas figuras estranhas, cada vez mais alucinadas com as ilimitadas possibilidades financeiras, criadas pelo absoluto mercantilismo do outrora inocente jogo da bola.
É SAF para todo lado e a grande verdade é que ainda não se criou uma cultura da tal Sociedade Anônima do Futebol em nosso país. Ninguém, de sã consciência, sabe onde que isso vai dar.
Claro que resolve o problema imediato dos clubes falidos, mas, no longo prazo, é uma grande incógnita. O único amador é o torcedor e a camisa não se veste mais só por amor.
Assista ao Carneiro&Mafuz #27
Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...