80 anos do Rei: Pelé mudou a história do futebol
Nossa, como a vida passou: Pelé está comemorando 80 anos muito bem vividos. Para mim, Pelé exerce um tipo de influência lúdica desde criança.
Quando calcei o primeiro par de chuteiras para dar os meus chutinhos na bola no time infantil do Grêmio Oeste, em Guarapuava, Pelé explodia como o garoto prodígio nos campos da Suécia, na primeira grande conquista mundial do futebol brasileiro em 1958.
Craque revelação, jogador completo, eleito o Atleta do Século XX pelos franceses, acumulou gols, vitórias, glórias e títulos importantes através dos tempos.
Ouvindo os jogos pelo rádio, assistindo aos lances principais no Canal 100 do cinema, mais adiante com a transmissão direta da televisão da Copa do Mundo no México, na consagração do tricampeonato mundial, diversas entrevistas nos meus tempos de repórter em jogos do Santos ou da Seleção, e pelos rápidos contatos pessoais em alguns almoços e jantares através dos anos, Pelé funcionou para mim como um balizamento no tempo.
Ou, por outra, a minha geração vibrou tanto com a sua arte e acompanhou com tamanho interesse a sua carreira, e por que não, a sua vida, que ele passou a fazer parte dos nossos sonhos e ilusões.
Nos dias de hoje, a gente vive com tanta pressa, com enorme
e interminável volume de informações a desabar sobre nossos olhos, com busca
incessante de novidades, que sobra pouco tempo para recordarmos do passado e
nos debruçarmos sobre as proezas do futebol.
Por exemplo, uma das coisas mais curiosas foi o chamado “gol
mais bonito” de Pelé, contra o Juventus, na Rua Javari, em 1959. O mais gostoso
está no fato de que não há imagens do lance.
Como pouca gente no pequeno estádio da Mooca viu, restou o boca a boca, que serviu para alimentar a criatividade ficcional de cada apaixonado e purista do futebol.
Todos se deram conta do encanto daquele evento à medida que aumentava a distância no espaço e que não se encontravam filmes para mostrá-lo e repeti-lo ao mundo.
Tanto que para o belíssimo filme Pelé Eterno, a jogada foi
criada no computador para que todos tivessem a chance de acompanhar o
malabarismo do fenomenal artista da bola.
Para vocês terem uma ideia do absoluto sucesso desse inigualável jogador vou transcrever matéria assinada pelo consagrado cronista esportivo argentino Dante Panzeri, na revista El Gráfico, em 1961.
Foi logo após o Santos ter vencido o Rancig por 4 a 2, em Buenos Aires, com dois gols de Pelé e uma atuação tecnicamente impecável. O título do artigo é “En futbol todo es posible. Firmado: Pelé”.
Vamos ao texto maravilhoso: “Todo lo reúne Pelé, ademàs de dos piernas y una cabeza diestras y maduras. Hábiles e talentosas. Sincronizadas. Concepción y ejecución. Todo es posible para Pelé.
Todo eso es Pelé, el seguramente más extraordinário y completo futbolista del mundo en estos momentos.
Más fácil que decir que es Pelé, resultó determinar que le falta a Pelé. Ser Blanco, puesto que es negro. De haber sido Blanco solamente le habría faltado ser negro.
Futbolísticamente lo tiene todo. Lo puede todo”.
Pelé, além dos gols e dos inúmeros títulos ganhos, ajudou a recuperar a autoestima do futebol brasileiro, e do nosso próprio povo, pelo orgulho de tê-lo entre nós. Pelé mudou a história do futebol.
Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...