Cansaço é desculpa esfarrapada para time que joga mal
O futebol mudou bastante nos últimos anos, com a sua absoluta mercantilização em proporções financeiras inimagináveis.
E também sofreu as conseqüências dos calendários pesados das últimas temporadas por conta da pandemia do coronavírus.
Na questão mercantil, ao se tornarem sociedades anônimas e, portanto, com proprietários que adquirem a maioria das ações, os clubes deixam de ser entidades meramente esportivas sem fins lucrativos.
Transformam-se em canais para a multiplicação de fortunas, agregando o interesse especulativo de poderosos grupos econômicos espalhados pelos quatro cantos do mundo.
Por conta disso, os super astros da bola se dão ao luxo de alternar boas e más apresentações, pois não são mais tratados como craques de ponta, mas como investimentos.
Assim, por mais que jogue mal, perca pênalti ou chances de gol incríveis, personalidades como Mbappé, por exemplo, não desagradam os donos do Paris Saint-Germain. Afinal, os acionistas majoritários do time francês recusaram a proposta de um bilhão de euros para liberar Mbappé antes do início da atual temporada europeia.
Na questão do calendário, alguns treinadores na última rodada colocaram na conta do esgotamento de alguns atletas as suas más atuações.
Foi o caso de Gustavo Morinígo, do Coritiba, após perder a liderança da Série B do Brasileirão na derrota para o Náutico e no triunfo do Botafogo que assumiu a primeira posição.
Também foi o caso de Rogério Ceni, do São Paulo, usando a fadiga como argumento para tentar justificar a pálida exibição da equipe na derrota para o Bahia, pela Série A.
A meu ver, cansaço é desculpa esfarrapada para time que joga mal.
Aliás, o único clube com autoridade moral para se queixar do calendário é o Athletico que disputa três competições paralelas: Brasileirão, Copa Sul-Americana e Copa do Brasil, e ainda chegou as semifinais do Campeonato Paranaense.
Se terminar bem classificado na Série A e cumprir com dignidade a sua participação nas duas finais de copas que se aproximam, o Furacão deve servir como exemplo para calar os técnicos que evocam o cansaço como motivo de tropeçar na bola, dar furadas, errar passes ou perder gols incríveis.
Qualidade individual é uma coisa, desgaste é outra completamente diferente.
A rigor, todos os jogadores se cansaram mais do que o normal entre 2020/2021.
Porém, repito, nenhum clube tem a legitimidade do Athletico para queixar-se de exaustão física e mental.
Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...