Carneiro Neto

O futebol moleque virou mania global pela televisão

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Carneiro Neto
08/01/2021 12:00 - Atualizado: 29/09/2023 20:17
O futebol moleque virou mania global pela televisão
| Foto: Arquivo/Gazeta do Povo

As novas gerações talvez não saibam como era gostoso o futebol de antigamente. E não estou falando de um passado profundo, apenas até o final do século passado quando o futebol foi deixando de ser um espetáculo restrito aos estádios para se transformar em atração na grade de programação das televisões pagas.

Ou, por outra, pouco a pouco o torcedor foi deixando de ir aos estádios para acompanhar os jogos apenas pela tevê. Havia uma preparação de todos aqueles que, invariavelmente, lotavam os grandes ou pequenos estádios em todas as partidas.

Dos animados campeonatos estaduais as competições nacionais ou, eventualmente, de caráter internacional o povo não se continha de vontade para ir ver, ao vivo, os jogadores em campo.

Havia um frenesi nas gerais e nas arquibancadas, com bandeiras hasteadas, fogos de artifício na entrada dos times em campo ou na comemoração dos gols, colorido das camisas vestidas pelos torcedores das duas equipes que se dividiam ordeiramente. Até que as tais torcidas organizadas estragaram a pureza e a leveza do décor futebolístico.

Tornaram-se torcedores profissionais, de certa forma inibindo a espontaneidade da maioria, com atos de violência dentro e fora dos estádios.

Por isso, e mais a facilidade de clicar o controle remoto da tevê e ver jogos de todos os países, o publico escasseou nas modernas arenas. Exceção da Europa onde os campeonatos são melhores organizados, o quadro social dos clubes é grande e a venda de ingressos antecipada antes do inicio de cada competição.

O futebol moderno começou nas primeiras fábricas inglesas da Revolução Industrial na metade do século dezenove e difundiu-se mundialmente no século vinte, com o surgimento de clubes organizados na maioria dos países.

O sociólogo Gilberto Freyre, autor de “Casa Grande & Senzala”, obra clássica sobre a formação da sociedade brasileira, refere-se que “o futebol brasileiro se afastou do bem ordenado original britânico para tornar-se a dança cheia de surpresas irracionais e de variações dionisíacas que é”.

As bicicletas de Leônidas da Silva, a genialidade de Zizinho, os passes de Didi, os arremessos manuais de Djalma Santos, as defesas de Gilmar, os dribles de Garrincha, os lançamentos de Gérson e os gols de Pelé construíram a mística em torno do moleque no país do futebol.

Molecagem que foi louvada por Freyre na publicação do prefácio da primeira edição do livro “O Negro no Futebol Brasileiro”, do jornalista Mario Filho, mais conhecido como o homem que deu nome ao Maracanã e como irmão do dramaturgo e cronista Nélson Rodrigues.

Depois de revelar tantos craques, dar verdadeiros shows e conquistar cinco títulos mundiais, a seleção brasileira virou unanimidade.

O estilo peculiar dos brasileiros ficou conhecido em inglês como “beautiful game” – jogo bonito – e transformou o time de camisa amarela em praticante de um jogo competitivo e, ao mesmo tempo, de alto nível estético.

O futebol moleque virou mania global pela televisão. Porém, a seleção brasileira perdeu muito do seu charme e encantamento nos últimos anos. Desde a conquista do pentacampeonato mundial, em 2002, o time nacional não conseguiu realizar uma admirável campanha em Copa do Mundo.

Antes, pelo contrário, tem mais decepcionado os fãs espalhados pelos quatro cantos do planeta do que provocado aplausos. É inegável o esvaziamento artístico do nosso futebol. Muitos são os motivos, a começar pela má formação dos jogadores na base, onde a arte e o talento foram substituídos pela ganância.

Assim, a geração liderada pelo controverso Neymar, criticado com razão por não ter mostrado até hoje na seleção as qualidades exibidas no Santos, no Barcelona e no Paris Saint Germain, terá a última oportunidade na próxima Copa do Mundo, no Catar.

Que todos, naturalmente, acompanharão pela televisão.

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Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...

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