Falta de personalidade afunda arbitragem brasileira e nem o VAR salva
Durante a semana, longe dos campos, quando não está investido em seu impecável traje negro e sem o apoio de seus apetrechos de trabalho – o apito importado, um par de cronômetros, fones de ouvindo, aparelho receptor para comunicar-se com a cabine do VAR e os cartões com que exerce sua autoridade – todo árbitro de futebol gosta de repetir que é “um ser humano como outro qualquer”.
Essa insistência tem uma explicação: ele mesmo não se considera um ser humano comum.
Seus poderes vão bem além do que podem perceber os mortais que comparecem a uma partida de futebol ou, como ultimamente, o observam através das imagens da televisão.
O espaço nem sempre é o espaço que se vê e o tempo nem sempre é aquele confirmado pelo cronômetro do estádio. É ele quem decide se a bola ultrapassou ou não a linha, é ele quem determina se o tempo está ou não no limite – ainda que milhares ou milhões de testemunhas tenham certeza do contrário.
O árbitro surgiu para enquadrar e conferir a veracidade do futebol. Ele sempre foi o regulamento em campo e, mesmo que não o vejam, os jogadores sentem a sua presença em todos os lugares, ou para reprimir ou para socorrer.
Dominando o campo com seu olhar, inclemente, ele pode até errar, desde que erre com firmeza, pode desprezar o aceno de um bandeirinha, que está ali apenas para auxiliá-lo.
Entretanto tudo mudou nos últimos tempos com as engenhocas eletrônicas colocadas à disposição dos apitadores e auxiliares com o objetivo de diminuir dúvidas ou más interpretações, acabaram tornando o famoso VAR em um instrumento de extrema sensibilidade. Para não dizer de discórdia.
Acontece que o árbitro de campo, pelo menos no futebol brasileiro, perdeu a confiança, tornou-se comodista e passou a dividir suas inseguranças e dúvidas com os árbitros da cabine. Pronto. O VAR, em vez de ajudar, passou a atrapalhar o futebol brasileiro.
No resto do mundo, especialmente na Europa, funciona maravilhosamente. Aqui, entretanto, pela falta de capacidade, raciocínio, cultura ou simplesmente ausência de personalidade as arbitragens afundaram de vez. O que fazer com o VAR sabor banana ?
Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...