A Liga do Brasileirão pode se tornar uma boa realidade
Li, há muitos anos, e não sei onde, um pensamento curioso. Afirmava seu autor que, para acabar com a sonegação, o governo deveria criar apenas dois impostos: um sobre a virtude e outro sobre a inteligência.
Por mais altos que fossem, todos se lisonjeariam em pagá-los e os que mais se apressariam a fazê-lo seriam os menos sujeitos a eles. Quanto ao Estado, bem, esse, a partir de provas irrefutáveis, seria o primeiro a receber isenção.
Pessoas que vivem no chamado Primeiro Mundo, quando leem alguma coisa sobre o Brasil, ou nos dão a honra de sua visita, não entendem a razão pela qual o nosso país, tendo tão vastos territórios, riquezas minerais abundantes, uma expressiva força de trabalho e tantos outros potenciais, ainda ser uma Nação pobre, tecnologicamente obsoleta e habitada por um povo profissionalmente indigente.
Entrando no futebol, a CBF – Confederação Brasileira de Futebol – funciona nas relações com os clubes exatamente da mesma forma que o Governo administra o país.
E isso vem desde os tempos da CBD – Confederação Brasileira de Desportos. Cabe lembrar que os governos agem assim, desde priscas eras, pois com raras exceções, nenhum Presidente da República deixou marca indelével de capacidade, retidão ou algo que possa representar saudade.
Juscelino Kubitscheck, por exemplo, que modernizou o país em diversos setores, na metade dos anos 1950, enterrou sonhos e ilusões com a inexplicável construção de Brasília. Uma tolice em todos os aspectos.
Ou Fernando Henrique Cardoso, que cumpriu bem o mandato para o qual foi eleito, mas seduzido pelo poder ou simples vaidade pessoal, criou o instituto da reeleição. Um desastre para países com sistema político endemicamente corrupto.
Na CBF não tem sido diferente, com denuncias de corrupção de três dos últimos presidentes – Ricardo Teixeira, José Maria Marin – detido em Nova York até hoje – e Marco Polo Del Nero, além do afastamento do atual, Rogério Caboclo, por atitudes impróprias dentro da entidade.
Diante disso e do completo esvaziamento da seleção
brasileira – pela falta de títulos expressivos em duas décadas -, além dos mal
formulados calendários anuais, com a insistência da obrigatoriedade dos clubes
da série A e B submeterem-se aos anacrônicos e deficitários campeonatos
estaduais, chegou a hora de mudar.
A Liga do Brasileirão, que está sendo arquitetada pela totalidade dos grandes clubes do país, pode se tornar uma boa realidade. Afinal, o Brasil é como um automóvel dotado de um possante motor, mas que não consegue sair do lugar.
Antônio Carlos Carneiro Neto nasceu em Wenceslau Braz, cresceu em Guarapuava e virou repórter de rádio e jornal em Ponta Grossa, em 1964. Chegou a Curitiba no ano seguinte e, mais tarde, formou-se em Direito. Narrador e comentaris...