A volta do Paraná como ato de fé, amor e ideal
Ande pelas ruas e verá a camisa tricolor do Paraná colorindo a nossa Curitiba cinzenta, fria e chuvosa. Desfila, ostentando o orgulho que estava dormente e internado à procura de alguém que lhe devolvesse a vida. E foi lembrada a verdade escrita no hino, de João Arnaldo e Sebastião Lima: “A tua origem coberta de glória, é que faz teu imenso valor...”
O Paraná está de volta à Primeira Divisão Estadual. Pode parecer pouco e até desprezível para os sentimentos alheios, mas não para o coração tricolor. É que “todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente”, já tinha escrito William Shakespeare há 426 anos atrás.
Entendo o orgulho paranista, não foi uma volta qualquer. A vitória técnica foi a mais relevante, por ser o alcance prático do objeto final, que era a volta à Primeira Divisão Estadual.
A relevância está nas circunstâncias em que foi ambientada: a entrega do amor, sem a vergonha de amar, o despertar do ideal que parecia desaparecido como sentimento desse futebol mercantil e a representação viva desses valores nas arquibancadas da Baixada, do Couto Pereira e da Vila Capanema, mostrando o significado popular do clube para Curitiba.
E tudo isso só foi possível, inclusive a mobilização popular que comoveu toda a cidade, em razão da intervenção direta de dois paranistas: do presidente Ailton Barbosa de Souza e Carlos Alberto Werner.
A volta do Paraná e a importância de Aílton e Werner
O tamanho da influência do presidente Ailton ninguém pode medir, como não se pode definir o silêncio. Se não fosse a sua humildade e o espírito de renúncia, sentimentos desconhecidos para a política que devastou o Paraná, talvez o Paraná não tivesse voltado.
Só esses valores de Ailton sensibilizaram Carlos Alberto Werner a assumir a responsabilidade de gerar condições para a volta. Mas desta vez não como “mecenas”, pagando contas, mas como uma espécie de Messias, para entregar ao povo à terra prometida.
A mesma importância do ato de retorno à elite paranaense foram as palavras de Werner: “Eu estou no Paraná e não saio mais. Sou torcedor e não posso abandonar o clube que eu amo.”
Confesso que sou amigo de Carlos e explico a razão dessas palavras. Em um almoço no La Varene, do Pátio Batel, perguntou-me qual era a opinião sobre a sua vontade de voltar. Respondi: “Se voltar, vai ter que ganhar e ganhando ou não, não pode mais sair até dar rumo ao clube”.
Independente do título da segundona, o objetivo final foi alcançado. É hora de acomodar os sentimentos e pensar que o amanhã já chegou. Há uma antiga lição que como velhos amantes de muitos valores, aprendemos na vida: não se vive só de amor.