Paulo Vecchio e o bem que o seu gol me fez
Naquela noite de 28 de agosto de 1968, em Vila Capanema, nenhum dos 20 mil torcedores, rubro-negros e coxas, sentia o frio daquele rigoroso inverno em Curitiba. É que cada um era aquecido pela sua paixão e pela esperança de ver o time do coração ganhar aquele que a história narra como o maior campeonato paranaense de todos os tempos.
Com meu querido primo Gerson Bittar assistia ao jogo no gol de fundos da Vila, no gol da “concha acústica” para o qual o Coritiba atacava no segundo tempo. O Atlético, precisando ganhar, jogava mais. E, para isso precisando marcar, todas as bolas para Zé Roberto. E uma delas alcançou o craque que, vencendo Nico, golpeou de cabeça, finalizando o goleiro Célio Maciel.
A partir daí as paixões definitivamente explodiram.
Para alcançar o empate e o título, o Coritiba foi jogando bolas em cima do goleiro Gil e dos zagueiros Bellini e Charrão. Com o jogo tomando o rumo para o final, o treinador coxa, Francisco Sarno, viu que Bellini, o capitão da Suécia, já não conseguia mais subir. E então usou a última esperança coxa: Paulo Vecchio, centroavante, quase 2 metros de altura.
O cronômetro já havia batido no último minuto de jogo, quando o árbitro Arnaldo Cesar Coelho marcou uma falta na esquerda do campo coxa. Apressado, o Coritiba cruzou na área e Bellini cortou.
Mas Arnaldo mandou voltar, sob o pretexto de que o lateral-esquerdo Gilberto, do Atlético, que havia sido expulso, ainda estava no campo. Então, o Coritiba mandou a última bola do jogo para a área atleticana. Bellini, Charrão e Paulo Vecchio subiram. Mas Paulo subiu mais e marcou de cabeça dando o título para os coxas.
Sob o impacto da forma como ocorreu a perda daquele sonhado título, Gerson e eu saímos da Vila e voltamos a pé sem trocar uma única palavra. O silêncio falava por nós e por todos os atleticanos.
Logo depois comecei a sentir a influência em mim do gol de Paulo Vecchio. Bem mais tarde, quando ele já havia encerrado a carreira e trabalhava na Caixa Ecônômica Federal, lhe prestei agradecimento pelo bem que me fez.
Perguntou: “Quem bem lhe fiz se o meu gol acabou com o teu sonho?”. Respondi: “Você me ensinou que o sofrimento, também, aumenta o amor por quem amamos”. Por isso que o tamanho de certas paixões são inexplicáveis. Em um minuto, com um gol, Paulo Vecchio virou lenda.