A farsa das prefeituras para parar o Paranaense. Ação arbitrária e populista
Um dia desses, na sua coluna da Folha de São Paulo, Ruy Castro, um verdadeiro imortal, escreveu que muitos pensamentos históricos foram tão repetidos, que viraram clichês nessa pandemia. Entre eles, o de Karl Marx: “A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”.
Clichê ou não, o pensamento marxista serve para explicar bem o que ocorre no Campeonato Paranaense. Há um ano, quando foi declarada a tragédia da pandemia, não havia ambiente para o futebol continuar. Daí a sua suspensão justa para se conciliar com os interesses da lei e da ciência.
Agora, a maioria dos municípios do Paraná, inclusive Curitiba, entenderam impedir os jogos do Estadual.
O fato se repete, agora, como uma escancarada farsa. O ato de impedir os jogos do Paranaense é árbitro e populista. Se a lei restringe as atividades esportivas e enquadra-as como não essenciais, é preciso interpretá-la. A lei é o fim em si mesma, ou, ao contrário, trânsito para realizar algum valor?
Entendo que a lei é esquema formal de realização concreta de valores. Para aplicá-la, é necessário recorrer aos fatos.
O futebol é um exemplo para a sociedade brasileira de comportamento diante da pandemia. Nenhum segmento público ou particular, criou e executou protocolos para a preservação da vida. Vencido o período de adaptação aos protocolos, não houve mais casos em massa. Os que ocorreram foram combatidos com o isolamento.
Nenhum extrato da sociedade como o futebol, repete testes quase que diariamente. O futebol não é o responsável por um único caso entre os mais de 250 mil mortos pela pandemia. Foi o único segmento que não aderiu ao negacionismo de Jair Bolsonaro, quando este liberou a presença de público nos estádios.
O pretexto das prefeituras de cumprir a lei é uma farsa. Querem impor a autoridade que faltou para fiscalizar as ordens sanitárias. O prefeito Rafael Greca, inclusive, responsável por criar o mecanismo de “fura-fila” quando, em prejuízo dos idosos, mandou vacinar os inscritos em conselhos, independentemente de idade.
Se o poder público tivesse adotado as normas sanitárias do futebol, o número de enlutados seria bem menor.