Osorio toca na alma de Zapelli. E ele começa a jogar
Em Curitiba, o sujeito sem confiança e sem um coração em dia, não consegue terminar a travessia da esquina das duas Marechais. Das duas, uma: ou morre atropelado ou morre de susto. E há meio século, os doutores do Detran, que gostam do dinheiro do povo, não veem que há um descompasso entre o sinal eletrônico e o tempo para as pessoas irem de uma esquina à outra.
O que serve para a vida, serve para o futebol. O jogador, por mais virtudes que tenha, se não tiver confiança em si e controle da emoção, não consegue dar um passe, é incapaz de fazer tabela e cai ao tentar fazer um drible. O gol, então, projeta-se para o campo do impossível. Bem por isso, o aforismo de Carlos Drummond de Andrade, que ensinava tudo sobre vida, resume: "A confiança é ato de fé".
Vejam só o caso desse jovem meia argentino Bruno Zapelli.
Para trazê-lo, o Athletico correu o risco de quebrar a sua própria banca, apostando milhões em Belgrano. Mas eis que vem um Zapelli de alma fria, corpo indolente e futebol mudo. Em campo, esse mutismo transformava-o em um passarinho triste.
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De repente, nos últimos jogos, Zapelli começou a desencantar. Contra o PSTC, encantou. Deu um concerto jogando um futebol sedutor. Correndo no seu ritmo, marcou e desarmou. Inteligente, ocupou espaços, atraiu e prendeu a bola. Exibindo a sua técnica que deve ser a natural, criou, lançou e marcou gol. O passe de calcanhar, só para os eleitos.
Qual o repente que ocorre com Zapelli?
Osorio, Juan Carlos Osorio.
Como se fosse personagem saído de “Cem Anos de Solidão”, que deu o Nobel para o seu conterrâneo Gabriel García Márquez, o doutor Osorio, além da palavra sincera, ensina os jogadores com bilhetinhos. Às vezes, como se fosse um pai ensinando o filho. Na obra de Gabi, as pessoas para lembrarem o nome das coisas que esqueceram, colocavam bilhetinhos.
Agora, Zapelli tem alguém dentro do Caju que conhece a alma do jogador, e que tem a capacidade de tocá-la e conhece futebol. Com Osorio, o fim da esperança sempre fica longe. Se o jogador tem virtudes naturais, acabam-se todos os segredos.