O que o Athletico tem a ver com o fracasso do Botafogo
O genial cineasta John Ford eternizou uma lição para os jornalistas com a última mensagem do seu épico “O Homem que Matou o Facínora".
No final, o repórter conta para o editor do jornal a lenda e o fato. A lenda era que o submisso e frágil advogado Ransom, de James Stewart, não foi quem matou o facínora Liberty Valance, interpretado por Lee Marvin, no duelo de Shinbone, no Velho Oeste.
O fato verdadeiro é escondido na cena do duelo: o “salvador” Tom, de John Wayne, assistindo de um beco e certo de que Ransom iria ser morto, foi quem deu o tiro mortal. Ransom acabou senador e Tom morreu como indigente.
Mais tarde, ao querer narrar a história, o repórter quis contar o fato verdadeiro. Mas o editor afirmou: “Quando a lenda é maior do que o fato, imprima-se a lenda”.
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Fez bem o jornalista Sandro Macedo, da Folha de São Paulo, em tratar o Brasileirão de 2023 como futura lenda do “campeonato que o Botafogo perdeu”.
A história todos sabem: solitário na liderança, o Botafogo tinha 13 pontos à frente do Palmeiras. Pondo-se a perder, ficou com o consolo de uma vaga na Libertadores, assistindo ao Palmeiras ganhar o seu 12º título brasileiro.
Em menor proporção nos números, mas não na frustração, foi o que aconteceu com o Athletico em 2004. Naquele Brasileirão, o Furacão estava entre os que seriam rebaixados quando o treinador Levi Culpi assumiu o seu comando técnico.
E pôs-se a ganhar, até que faltando quatro jogos para o final, bastava ganhar seis pontos de doze que seriam disputados contra Grêmio (já rebaixado), em Erechim, São Caetano e Botafogo, na Baixada, e Vasco, em São Januário.
Ganhando de 3 a 0, do Grêmio, nos últimos 12 minutos, deixou empatar, 3x3. Ganhou do São Caetano, 5x2. Perdeu para o Vasco, 1x0 e empatou com o Botafogo, 1x1.
Do fracasso atleticano, conta-se a lenda e esquece-se o fato. A lenda é que o empate foi resultado da briga entre Petraglia e Levi Culpi antes do jogo em Erechim.
O fato é que o Athletico de 2004 era como o Botafogo de 2023: não tinha time para ser campeão. E no futebol, o improvável nunca se sustenta.
No entanto, até hoje, passados 19 anos, me vejo pendurado no alambrado do “Colosso da Lagoa”, em Erechim, gritando para Washington segurar a bola na bandeira de escanteio. Não a segurou, o Grêmio foi ao último ataque, cruzou e o goleiro Diego “mão de alface” falhou para Pittbul empatar, 3x3. Saindo desmoralizado de Erechim, o Furacão perdeu o bi.