O Athletico nos tempos da fome
A saudade me empurrou para dentro da Baixada na noitinha de quinta-feira. A saudade e a curiosidade de ver o meia Endrick, do Palmeiras, e o goleiro Mycael, do Athletico. Por ter goleado por 5 a 2 no jogo do Palestra, o Palmeiras cumpriu na partida da Baixada uma simples formalidade.
Endrick é um fenômeno. Aos 16 anos de idade, faz coisas extraordinárias. No seu jogo, não há nada que seja mecânico, tudo é natural de seus atributos de berço.
Mycael está na linha nobre de goleiros que se produz no CT do Caju. Na etapa inicial, em uma blitz de dois minutos do Palmeiras, fez defesas pouco comuns para um grande goleiro. Só para um goleiro extraordinário, como será.
Mas nada disso me comoveu mais do que a presença de famílias atleticanas de extratos sociais mais humildes, que realizaram o sonho de ver o Athletico jogando na monumental Baixada.
O preço do ingresso foi um quilo de alimento. Para a maioria que estava na Baixada, um verdadeiro ônus. Tenho certeza de que para a realização do sonho, muitas famílias sacrificaram a si próprio, levando o quilo de feijão ou de arroz que tinha guardado em casa e iria sustentá-las em um dado momento do dia.
Saíram felizes da Baixada.
O amor pelo Athletico, às vezes, serve para matar a fome.