Flamengo x Athletico: uma carta de João para o seu filho
Querido filho:
Certa vez, quando ainda estava por aí, encontrei você escondendo as lágrimas. É que o Athletico não tinha marcado o terceiro gol naquela disputa com o Flamengo, em 1983. Como sempre, fui sincero: “Filho, eu quero que o Athletico sempre ganhe por causa de você. Mas eu torço mesmo é pelo Flamengo”.
Quem diria que um dia Flamengo e Athletico iriam decidir a Libertadores da América? É verdade, meu filho, o destino é danado.
Confesso que meus sentimentos quase ficaram confusos por causa desse jogo épico. Uma parte do coração pulsa pelo rubro-negro do Mengo. A outra parte, bate tanto e entra em descompasso pelo rubro-negro do Athletico, porque além de você, tem os seus netos e netas, um inclusive em Montreal, que choram por esse amor recente.
Você deve lembrar das coisas que te contava. Sou Flamengo desde os anos 30 quando vim para Rio de Janeiro prestar o serviço militar. Era a época do Estado Novo, imposto pelo autoritarismo de Getúlio Vargas, embora nada se pareça com o que anda ameaçando por aí. Mas era uma época de alegria porque existia o Flamengo de Domingos da Guia, Leônidas da Silva, até chegar o maior de todos, Zizinho.
Você que não esconde os seus sentimentos quando trata da familia, do Athletico e dos amigos, há de concordar que um amor intenso e antigo como esse nunca se esquece ou se despreza.
Conversando aqui com a tua mãe Adelaide, com a tua irmã Roseli e o teu sobrinho Toninho, lembrava de um antigo pensamento que diz “o destino baralha as cartas e nós jogamos”. E eu resolvi jogar esse baralho sozinho. Não precisa me pedir, vou torcer pelo Athletico. Como nós árabes dizemos “confio em Deus e já amarrei o meu camelo”. Quando se trata de filho, não se divide o coração.
E digo mais, meu filho: alguma coisa para o bem já está escrita. Depois você poderá escrever: maktub, estava escrito.
Deus te abençoe,
João.