Fernando Diniz, o Furacão e o New York Times
Sem compromisso como jornalista ou torcedor, pus-me a ver o Fla-Flu que decidia a Taça Guanabara. De repente, uma dúvida: por que ficar indiferente ao trabalho do treinador Fernando Diniz? A dúvida provocou-me um sentimento de querer que Diniz ganhasse o seu primeiro título. Diniz, enfim, é campeão.
Os formuladores táticos podem não gostar de Fernando Diniz e tratá-lo como um sonhador. Podem continuar negando-lhe o futuro, recorrendo às pendências de fracassos que ele deixou no Athletico, seu primeiro grande clube e, em especial, no São Paulo.
Pode-se censurar Diniz por suas ideias renovadoras. Mas não há censura capaz de desconstruir a sua grande virtude: o respeito por si próprio que o torna leal ao seu princípio de privilegiar o jogador e não o esquema. “Aposicional”, como ele conceitua.
Mas nessa época de esquemas rústicos, torcer por Fernando Diniz é uma obrigação para quem tem esperança de voltar a ver o futebol como execução de uma cena artística.
A primeira conquista de Diniz coincidiu com o editorial “Broken Systems" (Sistemas Quebrados), do jornalista Rory Smith, do New York Times. Prevendo a queda dos sistemas rígidos de Jurgen Klopp (Liverpool) e Joseph Guardiola (Manchester City), Smith escreve:
“O futuro parece pertencer às equipes e treinadores que estão dispostos a ser um pouco mais flexíveis e veem seu papel como uma plataforma na qual seus jogadores podem improvisar.
Os exemplos são o técnico italiano Luciano Spaletti, do Napoli, e o brasileiro Fernando Diniz, do Fluminense. Diniz, como Spalletti, não acredita em atribuir posições ou papéis específicos aos seus jogadores, mas em permitir que eles se troquem à vontade, para responder às exigências do jogo.
Ele não se preocupa com o controle de áreas específicas do campo. A única zona que interessa a ele e ao seu time é aquela perto da bola. Na sua visão, o futebol não é um jogo definido pela ocupação do espaço. Em vez disso, é centrado na bola: desde que seus jogadores estejam próximos a ela, a posição teórica em que jogam não importa nem um pouco. Eles não precisam se apegar a uma formação específica, a uma série de números codificados em suas cabeças”.
Com glórias, Fernando Diniz chegou ao New York Times e foi encontrar o Club Athletico Paranaense, que já está lá desde 1999, quando a sua camisa foi escolhida como um item de cultura esportiva para compor a cápsula do tempo que será aberta no próximo milênio.
Athletico e Diniz, um dia, talvez se encontrem, outra vez, por aqui. Isso se um não crescer mais do que o outro.