Felipão ou Turra: quem será o técnico do Athletico?
Agora que as lágrimas da despedida de Felipão já secaram e a emoção de domingo foi embora da Baixada, pergunta-se: foi a melhor solução para o início de 2023 a do comando técnico ser dividido com Paulo Turra no banco e Felipão como consultor?
Para tomar essa decisão, Petraglia não consultou o pretérito. Se aprendeu, desprezou a lição de que a prudência desprezada em tempos felizes adquire força vital nesses momentos em que o futebol só se conforma com pequenos erros.
As grandes conquistas do Athletico foram com Geninho e Tiago Nunes, que exerceram plenamente a hierarquia que cabe ao treinador. Autuori salvou duas vezes do rebaixamento, e Scolari classificou o Athletico para a final da Libertadores, sendo “donos” do time.
Não se discute se mantendo Luiz Felipe Scolari como o pensador do sistema de jogo irão se manter os velhos conceitos conservadores que concorreram para a perda da Libertadores, para a eliminação da Copa do Brasil jogando na Baixada, e o sexto lugar no Brasileirão na bacia das almas. Embora de natureza gravíssima, se Felipão, como afirmou, irá transportar esses às categorias de base formando jovens com ideias antigas de jogo.
A decisão coloca em debate uma velha questão que no Athletico já deveria estar superada: a hierarquia do treinador perante um time. Esse modelo de comando técnico em que há uma supremacia externa ao campo transforma o treinador em um mero executador de ordens. Os jogadores e a torcida, não sendo ingênuos, sabem quem manda.
No caso especifico Felipão-Turra, em especial. As diferenças de idade, experiência e história, mais do que dependência, provocam uma submissão involuntária de Turra a Felipão. Por mais que Turra tenha aprendido e venha a aprender, vai lhe faltar a figura scolarizada do seu mentor. Ficar como consultor técnico foi uma forma que Felipão pensou para tentar quebrar a dependência que Turra tem dele.
Petraglia, certo dia, disse que “Autuori seria o Alex Ferguson do Athletico”. Não foi. Quando Felipão chegou, repetiu: “Felipão será o Alex Ferguson do Athletico”. Será? Ferguson, depois de dez anos, voltou como assessor técnico do Manchester United. Não está conseguindo ser nem ele mesmo.
Como no Athletico Mario Celso Petraglia é, a um só tempo, dono, presidente, juiz e também bedel, e, por sua lei, todos são obrigados a ser feliz (Chico), cumpra-se.