O Estadual, a vida e o cão de Drummond
De brincadeira, mas com um fundo de verdade, deveria ser proibido passar jogos de De Bruyne e Vinícius Junior, de City e Real, por aqui. É que sendo uma fantasia para nós, provoca-nos a ilusão que no Brasil se joga algo que lá fora tratam de futebol. E quando o ano começa, obrigatoriamente, com os Estaduais, bate-nos uma melacolia esportiva.
Mas o que fazer? À essa altura da vida, aprendi que são as coisas que não escolhemos, é que nos fazem ser quem somos. Cuello, Alef Manga e outros que irão voltar ou aparecer não escolhemos, mas é o que temos. O consolo para tão pouca coisa é, que no Brasil, há coisa bem pior. Como no poema de Carlos Drummond de Andrade: “A infância está perdida. A mocidade está perdida. Mas a vida não se perdeu. Perdeste o melhor amigo. Não tentaste qualquer viagem. Não possuis carro, navio, terra. Mas tens um cão”.
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A vida no meu caso é a familia, o trabalho, os poucos amigos, esse meu espaço e o Athletico. E o Estadual seria o “cão” do poema de Drummond?
Seria uma ofensa ao poeta. O Paranaense é de arrepiar. Já não trata mais da necessidade de extinguir os estaduais para humanizar o futebol. A questão é outra. Passam os anos e não consigo compreender a razão pela qual Athletico e Coritiba são obrigados a pagar para jogar, quando a lei deveria prever ao contrário. A Federação Paranaense de Futebol é que deveria pagá-los como fazem as principais entidades do futebol brasileiro.
Mas, o que fazer? Talvez, mentir para nós mesmos que vamos ter futebol a partir de Andraus x Athletico. Então, vamos viver esse nosso mundo.