As desculpas de Mario Celso Petraglia lembram as carpideiras
Uma das tradições populares do sertão nordestino é contratar mulheres para chorar e cantar em homenagem ao morto. Passam a noite dançando em volta do caixão e repetindo músicas de lamentos. É uma brincadeira séria com a morte.
São as carpideiras.
Há o clássico teatral que as apresenta em: "As centenárias". As notáveis Marieta Severo, e Andréa Beltrão, correm o fundão do Nordeste, contando os mesmos causos e cantando as mesmas músicas para os mortos de ocasião.
O presidente Mario Celso Petraglia, do Athletico, às vezes, lembra-me uma dessas carpideiras. De repente, quebrando o silêncio, aparece com uma cartinha usando o mesmo discurso, contando o mesmo caso e narrando a mesma história.
Qualquer que seja o gênero (discurso, caso ou história), as desculpas são as mesmas: culpa da imprensa "especulativa e negacionista"; pagamento de R$ 117 milhões para a Fomento da dívida da Baixada; exigência da torcida "que sejamos campeões de todas as competições que desputarmos (sic), todos os anos", e que o Athletico bateu no teto.
Quebrar o silêncio para justificar o fracasso da sua presidência até agora no ano do Centenário com um discurso já tornado amarelo pela repetição, é mal sinal. A repetição de desculpas é um sinal quando se perde o sentido das coisas.
E as velhas desculpas estão tão antigas, e de tão surradas, nem servem mais como desculpas. E se usadas, como ocorre, comprometem o próprio Petraglia.
Escreveu do doutor: "Nunca investimentos no futebol como temos feito ultimamente".
Eis a grande questão. É verdade que os investimentos no futebol não foram poucos. Só que mais de R$100 milhões foram "investidos" em Bruno Zapelli, Gamarra, Romeo Benítez, Leo Godoy, Petterson, Filipinho, Zé Vitor, Di Yorio, Mastriani, Nikão e Gabriel.
Esses fatos (o valor gasto e os jogadores contratados) esvaziam todas as desculpas de Petraglia. O problema, então, não é a falta de dinheiro, não é a culpa da imprensa e da torcida, mas a incapacidade de aplicá-los no futebol.
Não há, entre os jogadores contratados "ultimamente" a partir de Bruno Zapelli (R$ 21,5 milhões por 50%), que possa ser considerado titular. Incapacidade representada por contratações que não se conciliam com os interesses do Athletico e da torcida. Gasto pródigo, o que torna a gestão de Petraglia irresponsável quando trata de futebol.