O Coritiba e o envelhecimento da sua marca
Fazer uma viagem ao passado é fácil. Se a memória tornou as lembranças frágeis, há os fatos escritos. Por uma pesquisa, o passado é fato presente. Mas, ao enfrentá-lo, torna-se complexo e perigoso. É que se provocam sentimentos e valores que o tempo se encarregou de protegê-los.
O centenário Coritiba Foot Ball Club está revisitando o dia 12 de outubro de 1909, quando foi fundado para mexer com o seu passado. É oficial a proposta da alteração do símbolo (marca), sob o pretexto de adaptá-lo às ideias supostamente modernas.
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É o modismo do futebol. Não foi o caso do Club Athletico Paranaense. A similaridade com tantos clubes rubro-negros, às vezes, causava um certo desconforto, inclusive, de inferioridade.
Inspirando-se no seu maior valor imaterial, construída como campeão de 1949, o “Furacão” mudou tudo: a camisa com faixas em perpendicular, como se fosse um furacão, resumindo-a no distintivo (marca). E para fazer por inteiro, cumpriu a ordem legal imposta por sua ata de criação: o “h” de Athletico, que o tempo esqueceu, foi resgatado e então tal como nasceu passou a ser chamado: Club Athletico Paranaense.
Não sei o que pensam os coxas modernistas. Certa vez, o saudoso Sérgio Prosdócimo, provocado pela ideia de Mario Celso Petraglia de fazer um clube único de Atlético (na época, sem “h”), Coritiba e Paraná, respondeu: “O Coritiba não aceita. É o único puro-sangue do Paraná”, referindo a criação de Athletico e Paraná através de fusões. É verdade que o tempo se encarregou de provar que às vezes o sangue ganha impureza, correndo mais sadio em outras veias que se cruzam. Mas essa é uma outra história.
A minha dúvida sobre o fato presente é a seguinte: por que modernizar uma marca se os elementos que a compõem não se confundem com nenhum no futebol brasileiro? A camisa branca com a faixa verde ligada pelo globo cortando o peito é uma marca exclusiva, sem similar no futebol brasileiro de tantas imitações.
Quando foi eleito, o presidente Juarez Moraes e Silva, projetando uma das virtudes que compõem o seu grande caráter, foi sincero: “Para se modernizar, o Coritiba terá que olhar e ter como referência tudo o que o Athletico está fazendo”.
Não me consta que o símbolo do Coritiba esteja vencido pelo tempo. Talvez esteja mais avançado do que pensam os seus modernistas.
Se é para ser moderno com o tempo presente, por que não adaptar a grafia do nome para Curitiba Foot Ball Club? Felipe Rauen, coxa dos grandes, faz uma abordagem sobre a grafia no nome do clube no seu “Bola de Couro” de 2.7.2020. Está na rede.