Carneiro Neto e os “atleticanos que queriam vender a Baixada”
Bom de memória, o amigo Carneiro Neto lembra que "há 35 anos, um grupo de atleticanos quis vender a Baixada”. Em uma narrativa fiel aos fatos e aos atleticanos que não permitiram a venda, entre os quais ele próprio, narra a histórica reunião no Mabu Hotel. Carneiro deveria fazer um novo post e contar quem eram os atleticanos que “queriam vender a Baixada”.
A história de Carneiro reclama o fato mais relevante: quem foram os atleticanos que queriam vender a Baixada?
Para responder é necessário recuar um pouco mais no tempo. Em 1984, cansado de pagar a taxa de aluguel do Couto Pereira para jogar Atletiba e os torneios nacionais, a “Retaguarda Atleticana”, que comandava o Athletico, resolveu indicar Onaireves Nilo Rolim de Moura para a presidência da Federação Paranaense de Futebol. Na época, o Governo do Estado sempre tinha um candidato. O deputado Anibal Khury indicou Aziz Domingos, do Colorado.
A eleição foi no Clube Morgenau, no Cristo Rei. A vitória de Moura foi bancada pela “Retaguarda Atleticana”. E por saber as regras do jogo para ganhar uma eleição, o Athletico destacou um comandante: Mario Celso Petraglia.
+ Confira as colunas de Augusto Mafuz no UmDois
Imediatamente após a posse de Moura, surgiu a ideia da “venda” da Baixada para a construtora Sisal, que em troca construiria o Pinheirão para o Athletico. Moura, como conselheiro apoiado pela “Retaguarda Atleticana”, com Petraglia no seu comando, formalizou a proposta em uma reunião do Conselho Deliberativo do Athletico. Apenas dois conselheiros reagiram contra a venda: Celso Gusso e Ary Queiroz. Todos os outros conselheiros estavam caindo no “conto do vigário”. Daí, formou-se a comissão que fez a histórica reunião do Hotel Mabu, que decidiu recusar a proposta.
Mas o drama atleticano não terminou com a recusa. Havia um contrato de exclusividade com a Federação em que o Athletico renunciou a Baixada para jogar só no Pinheirão. Esse contrato foi aprovado pelo mesmo Conselho Deliberativo.
Os atleticanos sofreram o diabo no Pinheirão. Gramado com buraco, arquibancada longínqua, vestiários alagados e estacionamento cheio de lama. Até que durante uma derrota para a Portuguesa de Desportos, a torcida, sem paciência, exigiu a volta à Baixada.
Farinhaqui, João Augusto Fleury e Hussein Zraik foram a Ney Braga e pediram ajuda. Enio Fornea Junior, Paulo Abbage, Ademir Adur e Ismário Bezerra construíram o “Farinhacão”. Por uma liminar, o Athletico livrou-se do Pinheirão e depois ganhou uma indenização, em 2014, de R$ 14 milhões, que ajudou na construção da Arena da Baixada.
Fiz a petição da Medida Cautelar e o professor Gilson Amaro Fernandes fez a da ação ordinária - essa uma verdadeira obra prima que, 30 anos depois, deveria servir como referência para estudos jurídicos de direito contratual. Já com Marcelo Ribeiro no jogo, ganhamos bons trocados.