Ave, Cuello! Os que estavam prestes a morrer o saúdam
Não era a arena do lago Fucino, era a da Baixada. Não era para o imperador Claudio, o “César”, era para o ponta Cuello, do Athletico. Mas, a saudação imperial é a reverência certa para saudar Cuello como um herói, que torna menos triste a história do Furacão nesse ano de centenário.
Na Baixada, para ganhar do poderoso Atlético-MG e sair da zona de rebaixamento, o Athletico tinha que fazer um jogo perfeito. Quer dizer: tinha que ir ao campo do improvável e revelar seus enigmas.
Aconteceu: Deus e cerca de 41 mil atleticanos testemunharam o Athletico, dentro das suas limitações, fazer um jogo perfeito. Descobrindo que o segredo do improvável é ter a consciência dos limites para superar-se física, técnica e espiritualmente, ganhou por 1 x 0.
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E, como toda a vitória ambientada em enigmas, o seu corolário teria que ser um gol improvável e de um herói improvável. Aos 28 minutos de jogo, o argentino Cuello, um dos proscritos, com cara e jeito de “gladiador”, transformou-se em um “César”: pela meia esquerda, correndo com a bola dominada, lá de longe, antes da área, chutou-a em forma de parábola que foi alcançar o ângulo esquerdo da meta de Everson, o melhor goleiro do Brasil.
O curso da triste história do centenário do Athletico vai acabar vinculada ao destino de um jogador: Cuello.
Cuello, torcida...foi uma noite mágica na Baixada
Não acreditando mais nos dirigentes e tendo um resto de esperança nos jogadores, a torcida rubro-negra abraçou e comandou definitivamente a causa da salvação do rebaixamento.
Pela arquibancada, revezaram-se os mais diversos sentimentos: medo, angústia, esperança e, o mais forte deles, o amor pelo Furacão. Com bandeirinhas e bandeirolas, fogos de artifício, desta vez, o time aceitou jogar com a obrigação de ir à exaustão para ganhar o jogo. Mas, não foram só virtudes emocionais e físicas.
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O jogo perfeito foi também resultado de uma boa ordem tática. Lucho González foi convencido de que um time limitado precisa adotar métodos conservadores: uma defesa fechada, um meio-campo concentrado e combativo, e contra-ataque em velocidade.
No futebol, a ordem conservadora ganha traços modernos, desde que resulte em ganho. E, assim, o Furacão dominou o Galo, sem sofrer o trauma da pressão. A posse inferior de bola não significou nada, pois os gols perdidos foram por Pablo e Nikão.
O Athletico está salvo? O pacifista judeu Shimon Peres cravou: “Nunca aceitei as coisas como são. O meu arrependimento é não ter sonhado mais”.