Opinião

Sobrará lugar para jogar as cinzas do Paraná?

Por
Augusto Mafuz
27/01/2021 00:15 - Atualizado: 29/09/2023 20:12
Paraná fez campanha pífia na Série B.
Paraná fez campanha pífia na Série B. | Foto: Albari Rosa/Foto Digital/UmDoisEsportes

Na história do esporte, há um célebre obituário publicado pelo jornal inglês The Sporting Times, quando o poderoso e invencível time de críquete da Inglaterra foi derrotado pela Austrália, dando origem ao troféu denominado The Ashes (as cinzas): “Em memória afetuosa do críquete inglês, falecido no The Oval em 29 de 1882, profundamente lamentado por um amplo círculo de amigos e conhecidos. Descanse em praz. O corpo será cremado e as cinzas, levadas à Austrália”.

Passados 139 anos, de dois em dois anos, Inglaterra e Austrália jogam uma partida amistosa, em que se disputa o troféu “The Ashes”, “As Cinzas”. O vencedor e os jogadores ganham uma réplica da urna mortuária, cuja original saiu apenas duas vezes de Londres. A pequena urna guarda cinzas de uma bola e de um taco. (Pesquisa, Folha de São Paulo, 11.3.2007, Caderno de Esportes).

No esporte em geral, mas, no futebol em especial, nenhum obituário tem data e lugar, porque nada é para a vida toda. Por ser sensível à paixão, o futebol se torna irresistível como valor. Pode até demorar um pouco, e pode não ser como era antes, mas, o “nosso time”, quase sempre recupera as suas cinzas.

O Paraná está rebaixado para a Terceira divisão, a Série C Nacional. Como seria o seu obituário? Resumido, seria assim:

Da fusão de Colorado, Pinheiros, Britânia e Palestra, nasceu em 1989. Exibindo imóveis em todos os cantos, era anunciado por cartazes nas ruas de Curitiba como o “clube do ano 2000”. Seus fundadores vaidosos, apresentavam-se com “O Poder da Realização”. Exercendo esse poder no campo, foi ganhando títulos. No futebol paranaense, ganhou 1991, 1993, 1994, 1995, 1996, 1997 e 2006. No futebol nacional, em três anos, alcançou o Brasileirão, ganhando o título da Segundona em 1992. 

Vivendo na ilusão dos títulos, foi sendo corrido pela sua própria gente. Dos imóveis que tinha, vendeu o Britânia por “trinta moedas”, perdeu o Palestra para INSS, perdeu o espaço das piscinas para os empregados, e agora, o que lhe resta é a posse sem domínio da Vila Olímpica, Vila Capanema e sede da Kennedy.

Entregando-se a dirigentes perdulários, e para isso, atropelando os paranistas de bem, está insolvente, não prestando a obrigação de pagar salários, provocando um drama social em várias famílias que um dia lá trabalharam, e hoje, ainda, trabalham.

Já em estado de agonia, no dia 26 de janeiro de 2021, o Paraná foi a óbito por um tempo. Rebaixado para a Terceira divisão nacional, enterrado em dívidas e, entregue a bandos organizados de arquibancada, pode tornar a paixão do seu torcedor de bem vulnerável e ter escrita uma certidão de óbito com data e lugar da morte. Talvez, sem a Vila, sem a Olímpica e sem a Kennedy para jogar as suas cinzas”.

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Augusto Mafuz é um dos comentaristas esportivos mais tradicionais de Curitiba, conhecido por sua cobertura do Athletico e outros times da capital. Nascido em Guarapuava em 11 de maio de 1949, Mafuz tem sido uma figura central no j...

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