Brasil: os jogadores têm pátria?
Só mesmo os ingênuos acreditaram ou tiveram dúvida de que a Seleção do Brasil não jogaria a Copa América em solidariedade às vítimas da Covid-19. Se há sentimento que não existe no futebol é o da solidariedade. E se existe é bem depois de serem satisfeitos os valores materiais aos quais por contratos todos estão vinculados.
É possível que na manifestação oficial, os jogadores afirmem que o fator impeditivo que era Rogério Caboclo foi afastado pelo seu afastamento da presidência da CBF. Se for será um argumento oportunista, na medida em que o elemento contrário à realização da Copa América, no Brasil, não era Caboclo, mas, a proximidade dos 500 mil mortos pela Covid.
Da célebre expressão de Nelson Rodrigues “A Seleção é a pátria de chuteiras”, não restou quase nada: a Seleção passou a ser um time da CBF no feliz conceito do jornalista André Barcinski, aqui no UmDois e, as chuteiras, antes instrumentos que serviam para a realização de sonhos do povo, passaram a ser trânsito para só realizações materiais.
Da frase de Nelson, teria restado a Pátria. Não no sentido que Nelson imprimiu como terra natal onde cria nossos vínculos afetivos e culturais. Como conta em poema Gonçalves Dias no seu “Canção do Exilio”: Minha terra tem palmeiras, onde canta o Sabiá; As aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá ...”
É possível que, ao se tratar de Seleção do Brasil nesses tempos mercantis, involuntariamente, se siga a pregação de Karl Marx para o qual os “operários não tem pátria”.