Opinião

Athletico, Cuca e o libelo de um traidor

Cuca.

Não canso de lembrar da clássica lição do imortal Márcio Moreira Alves, que muitos jornalistas, para evitar confrontos, são dominados pela síndrome do óbvio, para não ver e criticar o essencial.

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Verso, reverso, afirmação e negação de fatos e versões que explicam a saída de Cuca do Athletico. Há quem o trate como vítima dos erros da diretoria na formação do elenco para o ano do Centenário.

De fato, Mario Celso Petraglia confiou no sistema de dados de Márcio Lara, seu lugar-tenente, e deu-lhe um “cheque em branco”. Resultado: Lara, de braços dados com empresários, remeteu o Furacão ao mercado para gastar R$ 100 milhões em Léo Godoy, Gamarra, Zé Vitor, Romeo Benítez, Di Yorio e Felipinho.

Desconsiderou que o Athletico, derramando dinheiro no mesmo mercado, gastará R$ 40 milhões com Cuello e Zapelli. Mas, essa é uma outra questão que será tema futuro.

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A questão, aqui, é o motivo pelo qual Cuca foi embora. A análise do óbvio é fundamentada em fatos já debatidos e consumados. Daí, esses fatos serem tratados como óbvio. O caso de Cuca tem que ser analisado pelo essencial.

O que precedeu a contratação de Cuca: antes mesmo da anulação do processo da Suíça, que o condenou por estupro, o Athletico já bancava a sua contratação. Depois, mesmo com a censura moral que restou após a anulação do processo, só o Athletico teve a independência perante à mídia central e a opinião pública, de ressocializa-lo no futebol brasileiro. E não foi de graça: Cuca abocanhava R$ 800 mil por mês, inédito, tratando-se do Athletico em matéria de treinador.

Confesso que quando Cuca declarou o seu “amor” pelo Athletico, lembrei de uma frase do poeta Fernando Pessoa: ”Não sei se é amor que tens, ou amor que finges”. Sendo notório o seu currículo pessoal e profissional, desconfiei desse “amor”.

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Melhor seria se Cuca saísse do Athletico por fracassar como técnico.  Mas, nessa qualidade, foi exuberante. Pelas circunstâncias, centrada na falta de qualidade do time, fez até aqui a melhor campanha no Brasileirão. Só que Cuca sai por fracassar como homem.

A reação da torcida após o jogo com o Corinthians não era contra ele, mas contra o time e contra a diretoria. E, ainda que fosse, teria que ser ponderado e medir o significado de deixar o Athletico por um motivo banal, depois de tudo o que o clube lhe proporcionou.

Cuca já havia recebido proposta há semanas

Há duas semanas, antes do jogo contra Flamengo, Botafogo e Corinthians, bem antes, portanto, antes dos gols sofridos no último minuto, Cuca já havia recebido uma proposta do Cruzeiro. Sair do Furacão era questão de pouco tempo para acertar o dinheiro e o momento.

Cuca escreveu um libelo da traição na história do Athletico.

Quem estudou a história da Revolução Francesa e napoleônica, sabe quem foi Joseph Fouché.  Para o inigualável jornalista Alberto Dines, Fouché “traiu a igreja em que se formou, traiu os revolucionários que acabaram com a monarquia, traiu os girondinos, os moderados, os jacobinos, os iluministas, o Diretório, a República, os banqueiros que o financiaram e traiu Napoleão, que lhe deu todos os poderes. Só não traiu a sua imensa, viciosa e desmedida ambição”.   

A conduta aparecendo vestindo a imagem de Nossa Senhora é uma. Sem ela, é outro. O verdadeiro é esse. E não culpo a diretoria do clube e nem a torcida.

Meu pai João sempre usava um ditado árabe: “quem dorme a noite com cão, levanta com pulga na manhã seguinte”. 

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