Opinião

Athletico, Cuca e o libelo de um traidor

Por
Augusto Mafuz
24/06/2024 12:35 - Atualizado: 24/06/2024 23:38
Cuca.
Cuca. | Foto: Átila Alberti/ UmDois Esportes

Não canso de lembrar da clássica lição do imortal Márcio Moreira Alves, que muitos jornalistas, para evitar confrontos, são dominados pela síndrome do óbvio, para não ver e criticar o essencial.

Verso, reverso, afirmação e negação de fatos e versões que explicam a saída de Cuca do Athletico. Há quem o trate como vítima dos erros da diretoria na formação do elenco para o ano do Centenário.

De fato, Mario Celso Petraglia confiou no sistema de dados de Márcio Lara, seu lugar-tenente, e deu-lhe um “cheque em branco”. Resultado: Lara, de braços dados com empresários, remeteu o Furacão ao mercado para gastar R$ 100 milhões em Léo Godoy, Gamarra, Zé Vitor, Romeo Benítez, Di Yorio e Felipinho.

Desconsiderou que o Athletico, derramando dinheiro no mesmo mercado, já gastara R$ 40 milhões com Cuello e Zapelli. Mas, essa é uma outra questão que será tema futuro.

A questão, aqui, é o motivo pelo qual Cuca foi embora. A análise do óbvio é fundamentada em fatos já debatidos e consumados. Daí, esses fatos serem tratados como óbvio. O caso de Cuca tem que ser analisado pelo essencial.

O que precedeu a contratação de Cuca: antes mesmo da anulação do processo da Suíça, que o condenou por estupro, o Athletico já bancava a sua contratação. Depois, mesmo com a censura moral que restou após a anulação do processo, só o Athletico teve a independência perante à mídia central e a opinião pública, de ressocializa-lo no futebol brasileiro. E não foi de graça: Cuca abocanhava R$ 800 mil por mês, inédito, tratando-se do Athletico em matéria de treinador.

Confesso que quando Cuca declarou o seu “amor” pelo Athletico, lembrei de uma frase do poeta Fernando Pessoa: ”Não sei se é amor que tens, ou amor que finges”. Sendo notório o seu currículo pessoal e profissional, desconfiei desse “amor”.

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Melhor seria se Cuca saísse do Athletico por fracassar como técnico.  Mas, nessa qualidade, foi exuberante. Pelas circunstâncias, centrada na falta de qualidade do time, fez até aqui a melhor campanha no Brasileirão. Só que Cuca sai por fracassar como homem.

A reação da torcida após o jogo com o Corinthians não era contra ele, mas contra o time e contra a diretoria. E, ainda que fosse, teria que ser ponderado e medir o significado de deixar o Athletico por um motivo banal, depois de tudo o que o clube lhe proporcionou.

Cuca já havia recebido proposta há semanas

Há duas semanas, antes do jogo contra Flamengo, Botafogo e Corinthians, bem antes, portanto, antes dos gols sofridos no último minuto, Cuca já havia recebido uma proposta do Cruzeiro. Sair do Furacão era questão de pouco tempo para acertar o dinheiro e o momento.

Cuca escreveu um libelo da traição na história do Athletico.

Quem estudou a história da Revolução Francesa e napoleônica, sabe quem foi Joseph Fouché.  Para o inigualável jornalista Alberto Dines, Fouché “traiu a igreja em que se formou, traiu os revolucionários que acabaram com a monarquia, traiu os girondinos, os moderados, os jacobinos, os iluministas, o Diretório, a República, os banqueiros que o financiaram e traiu Napoleão, que lhe deu todos os poderes. Só não traiu a sua imensa, viciosa e desmedida ambição”.   

A conduta aparecendo vestindo a imagem de Nossa Senhora é uma. Sem ela, é outro. O verdadeiro é esse. E não culpo a diretoria do clube e nem a torcida.

Meu pai João sempre usava um ditado árabe: “quem dorme a noite com cão, levanta com pulga na manhã seguinte”. 

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Augusto Mafuz é um dos comentaristas esportivos mais tradicionais de Curitiba, conhecido por sua cobertura do Athletico e outros times da capital. Nascido em Guarapuava em 11 de maio de 1949, Mafuz tem sido uma figura central no j...

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