Desesperado, Athletico recorre aos “seus pobres” para salvar-se da Série B

Na Baixada, pelo Brasileirão, o Athletico goleou o Cruzeiro por 3 a 0 e, assim – por uma semana – estará fora da zona de rebaixamento.
É uma vitória simples de explicar pelos teóricos que entendem que uma vitória é consequência apenas do jogo jogado. Esses devem ter falado e escrito o seguinte: aos três segundos, a bola mal tinha dado um giro em sua circunferência, quando o adoidado Rafa Silva, do Cruzeiro, foi expulso por violência.
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E, a crítica do jogo jogado, que é sempre baseada em fatores condicionantes, adota esse momento da expulsão como orientador das razões da vitória do Furacão. Daí, para alcançar a conclusão de uma vitória justa, até um foca de redação, um estagiário de jornalismo ou um especulador de futebol é capaz de concluir.
Só os cegos não viram as razões para a vitória do Athletico. Quem não viu o jogo pelo coração, perdeu a mais linda, a mais majestosa e a mais espetacular demonstração de fé e de amor de uma torcida.
Ela transformou Pablo, Nikão, Julimar, Cuello, Erick e todos os outros, em Nem, Kleberson, Cocito, Alex Mineiro e Kléber Incendiário. O técnico Lucho González virou Geninho. Os gols foram meros fatos ilustrativos.
Por ter visto o jogo pelo coração que, ainda enxerga, escrevo minha versão porque o Athletico ganhou. Porque “futebol não é para pobre”, segundo o princípio discriminatório sócio-econômico de Petraglia, criou-se a “torcida nórdica da Baixada”. Exatamente como a observação feliz do escritor gaúcho e colorado Luis Fernando Veríssimo (Globo, 2001, após Athletico 4 x 2 São Caetano).
Agora, desesperados para salvarem o Furacão dos estragos que praticaram com os “gringos de Lara”, os dirigentes tiveram que fazer coisas que nunca fizeram e que voltarão a fazê-las: revelando uma espécie de medo, com a falsa autocrítica de “erramos”, engoliram a empáfia.
E, ao transigirem com os mecanismos que tornaram a Baixada uma terra proibida para as classes sociais sem privilégios, tiveram que engolir a arrogância, e abriram-na para os pobres.
Homenagem à atleticana Cristiane Mocellin
Foi essa torcida que comandou e dirigiu o Athletico Lucho do banco, Pablo & Cia foram apenas executores dessas ordens do coração vindas da arquibancada. Quando se fala de amor em estado puro, em razão do Athletico, não há como não lembrar de Cristiane Canet Mocellin.
A última vez que falei com Cristiane foi ao oferecer solidariedade na morte de sua mãe, Maria, com quem convivi por profissão. Ao despedir-me, ela me disse: “Leio você todos os dias. Não esqueça de mim”. Só agora fui entendê-la.
Há anos lutando pela vida, Cris morreu. Deus a fez rica de propósito, porque sabia que os seus valores não se concentrariam em matéria. Na execução da vida, fazia questão de mostrá-lo: o amor pela familia, em especial Bernardo e Renata, seus filhos, pelos os amigos e amigas, e pela obrigação que criou para si em auxiliar os mais frágeis.
Foi o exemplo mais forte de solidariedade, quando presidiu o Instituto TMO, criado por seu tio Jayme Canet, que há 30 anos apoia o Transplante de Medula Óssea do Hospital de Clínicas.
Cristiane derretia-se pelo Athletico. Foi dirigente, conselheira, mas, acima de tudo, torcedora de arquibancada. Há quem tenha visto Cristiane passando por cima da Baixada para tomar o caminho definitivo, no momento do espetacular gol de Julimar. Essa coluna é uma homenagem a memória da querida amiga Cristiane Canet Mocellin.