Depois de 30 anos, Petraglia descobre o atleticanismo
Não é repetição de notícia velha. É, antes, uma triste notícia: o presidente Mario Celso Petraglia, que rebaixou o Athletico para a Segunda Divisão, voltou a escrever uma carta aberta à torcida.
Como todas as mensagens anteriores. Com a aparência e fundo populista e na qualidade de vítima e não do culpado pelo fracasso.
Ao remeter a carta para a emocionante movimentação da torcida, para tentar evitar a queda para a Segundona, escreveu: “Sua participação nos últimos jogos em casa mexeu com todos – inclusive comigo”.
Com a expressão “inclusive comigo”, Petraglia prova de que o Athletico como time de futebol, em regra, é apenas um meio imediato para atender os seus interesses de dirigente e não fim para provocar afagos no ideal e no amor atleticano.
Ao afirmar que o movimento da torcida mexeu com todos, “inclusive comigo”, Petraglia assume a condição de “Deus”, exerce uma supremacia que o coloca acima de todos os atleticanos e confessa que, para provocar a sua emoção, tratando-se de Athletico, é necessária coisa extraordinária. E resumo: é atleticano de ocasião.
A infeliz carta avança: “Fizemos o maior investimento da nossa história no ano do centenário. E o resultado está aí para provar que dinheiro não garante sucesso”.
Com bem menos dinheiro, o Furacão não submeteria a torcida à humilhação do rebaixamento. Bastava que os responsáveis pelo derrame de R$ 100 milhões em Gamarra, Benitez, Di Yorio, Mastriani, Léo Godoy, Praxedes, Varini e Lucho González, pensassem mais no Athletico do que em si próprio.
Não é pouco, mas há mais. Para cravar a condição de vítima e salvador, diz: “Cheguei aos 80 anos de vida. E o tempo traz a noção de finitude”.
Aqui, Petraglia pescou alguma coisa em um campo de meditações bíblicas, e escreveu sem noção do que escrevia. Uma das virtudes de Deus não é, definitivamente, crer na finitude. A não ser que Petraglia tenha consciência de que não tem alma, só corpo.
De resto, a carta anuncia providências para mostrar a força do “atleticanismo”. Se há alguém que não tem legitimidade para incentivar o “atleticanismo” é Petraglia, que sempre o tratou como uma falácia.
A carta revela um Petraglia enfraquecido sob todos os aspectos. Um homem que está tentando acertar as contas consigo mesmo e não está conseguindo.