Athletico: na Baixada, Cuca, Osorio, o “anjo” e o “demônio: 6x0
O escritor de Moçambique, Mia Couto, em sua “Terra sonâmbula”, escreve assim: “Cada um descobre o seu anjo tendo um caso com o demônio”. O pensamento veste-se como uma luva para explicar essa goleada do Athletico sobre o Londrina, na Baixada, 6x0.
Com Juan Carlos Osorio, o Furacão era desfigurado, todos sabem. Quando não há uma ordem de jogo, as restrições naturais da qualidade do jogador explodem. Erros improváveis são praticados. Às vezes todos eram iguais, tornando-se impossível distiguir o grande jogador do perna de pau. E, assim, quando essa desordem torna-se rotina, o jogador que erra por falta de ordem erra, também, por carregar a responsabilidade. Era isso que acontecia no Furacão. Na frase de Mia Couto, Osorio era um “demônio”.
E aí veio Cuca. Os teóricos já devem ter afirmado que Cuca mudou a forma de jogar, mandou Erick, Canobbio, Zapelli, Fernandinho e todos eles jogarem assim e assado. Esses teóricos viram o óbvio e ficaram cegos para o essencial. A grande virtude de Cuca, como treinador, é ser capaz de executar as coisas que tornam o futebol simples.
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A partir desse princípio, Cuca ordenou o Athletico de forma singular, sem exotismo. Absorvendo para si toda a responsabilidade de um jogo em que se exigia a reversão do confronto, liberou os jogadores. Cuca deve ter ensinado o pensamento de Cruyff: “Jogue como se nunca pudesse cometer um erro, mas não se surpreenda quando o fizer”.
E então, Fernandinho, Christian, Zapelli, Felipinho, Erick e Canobbio fizeram o time jogar como há tempo não jogava. Os 20 minutos iniciais da etapa final foram maravilhosos, um espetáculo. No futebol atual, não é sempre que um placar de 6 a 0 torna-se excessivo. Cuca é o “anjo” na frase de Mia Couto.
Dirão que o Londrina é fraco. Faz mais sentido e será mais justo para uma goleada de 6x0 afirmar que o Londrina tornou-se fraco diante da exuberância do jogo que o Furacão fez.
Não quero ser apressado. Mas como escreve o escritor espanhol Fernando Aramburu (Quando os passáros voltarem): “Não há uma felicidade absoluta. Não há felicidade em si. A felicidade é aqui e agora”.
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