Opinião

Athletico e o estranho caso de Vitor Roque

Por
Augusto Mafuz
13/04/2022 12:20 - Atualizado: 04/10/2023 16:49
Vitor Roque virou motivo de disputa entre Athletico e Cruzeiro
Vitor Roque virou motivo de disputa entre Athletico e Cruzeiro | Foto: Divulgação/Cruzeiro

Não há, em tese, contrariedade à Lei Pelé, o ato do Athletico depositar a favor do Cruzeiro, o valor de R$24 milhões da multa rescisória do contrato do jovem atacante Vitor Roque.

No entanto, não sou daqueles que entendem que a lei é o fim de si mesma. Aprendi que é um esquema formal para a realização concreta de valores. A sua eficácia cessa no momento em que a sua aplicação traz prejuízos a terceiros.

Quando se legislou o direito de rescindir o contrato do atleta com o pagamento da multa, a vontade da lei era evitar que nos conflitos se criasse uma espécie de servidão. Por ter a supremacia na relação laboral, o clube impedia o atleta de exercer regularmente a profissão até o final do contrato.

No passado, há dois casos simbólicos em que o texto e o espírito da lei se associaram: em conflito com o Athletico, Dagoberto depositou o valor da multa e foi embora para o São Paulo; e, mais tarde, Oscar o fez do São Paulo para o Internacional.

Em 27 anos de Lei Pelé, raríssimas vezes um jogador exerceu esse direito e, assim mesmo, só o fez em razão de que o fundo moral da lei estava a seu favor.

Qual seria a reação do Furacão se no seu recente passado um clube brasileiro adiantasse trinta moedas para Bruno Guimarães ou Renan Lodi romperem o contrato? Pelo texto da lei teriam esse direito, mas pelo seu lado moral, não. O Athletico os revelou e os tornou famosos para serem ricos. A lei Pelé exige, também, o exercício da gratidão.

A análise da questão do caso de Vitor Roque, então, passa necessariamente pelo campo da ética. Criado, educado e revelado pelo Cruzeiro, surgindo como a nova versão de Ronaldo Fenômeno, o atacante aos 17 anos de idade já vivia uma vida de conto-de-fadas. Sem conflito, recebendo tratamento especial, já era ídolo da torcida.

É aí que a análise se torna complexa. Talvez, só Aristóteles e Platão poderiam analisar o negócio no campo da ética, quando do mesmo lado se reúnem o presidente Mario Celso Petraglia e o CEO Alexandre Mattos, do Athletico, e o agente André Cury.

Só para se ter uma noção, Cury é o agente que mais tem crédito judicial junto ao Galo e ao Cruzeiro, coisa de R$100 milhões. Esse crédito foi adquirido quando Mattos foi gerente dos dois clubes. Petraglia é um “coroinha” perto dos dois.

A questão principal é outra: de onde está vindo todo esse dinheiro, que o Furacão está derramando no mercado de jogadores?

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Augusto Mafuz é um dos comentaristas esportivos mais tradicionais de Curitiba, conhecido por sua cobertura do Athletico e outros times da capital. Nascido em Guarapuava em 11 de maio de 1949, Mafuz tem sido uma figura central no j...

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