Opinião

As últimas lágrimas de Felipão classificam o Athletico para a Libertadores

Felipão, técnico do Athletico

Felipão se emocionou em sua despedida como técnico.

Estamos de acordo com um fato: o jogo contra o Botafogo era importante para o Athletico porque uma derrota iria exclui-lo da Libertadores de 2023. Seria um golpe em seus planos, nos milhões investidos e no seu orgulho próprio de grande nacional.

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Mas o jogo era muito importante, também, para Luiz Felipe Scolari, na medida em que a sua mística confunde homem com o treinador. Depois da eliminação na Copa do Brasil e da perda da Libertadores com a sua concorrência direta, nesses contrastes maldosos do futebol, uma derrota que eliminasse o Furacão seria uma marca impagável na sua despedida. A última imagem é a que sobra, disse o imortal Puskas quando a Hungria perdeu a Copa de 1954.

Explicam-se, então, as lágrimas vertidas por Felipão quando foi finalizada a goleada por 3 a 0 sobre o Botafogo. Não foram lágrimas de mágoa desiludida, como escreveu Carlos Drummond de Andrade no poema a Garcia Lorca. Foram lágrimas sinceras, embora fossem lágrimas surpreendentes tratando-se de quem foi a fonte do maior conflito de sentimentos que alguém viveu no futebol: a alegria de ser o último técnico a ganhar uma Copa do Mundo para o Brasil, e a tristeza de ser o técnico pelo mesmo Brasil por aquela derrota que se tornou a metáfora do fracasso, os 7 a 1 para a Alemanha (Mineirão, 2014).

Bem por isso, as lágrimas de Felipão me emocionaram mais que a própria vitória do Athletico. A grandeza de um ser humano está na reserva dos seus sentimentos. A de Felipão é inesgotável.

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E vejam bem, não foi uma vitória qualquer. Não foi daquelas vitórias de jogadas casuais para ter uma sobra de bola na área adversária. Foi de um Furacão único, que não havia jogado nesse Brasileirão. Surpreendente por renunciar ao conservadorismo da marcação atrasada e do jogo por uma bola, avançou todas as suas linhas. Com o jogo centrado em Fernandinho, empurrando David Terans como atacante, submeteu o Botafogo ao seu completo domínio.

Mantendo-se assim, no segundo tempo quase chegou à perfeição. Aos 6 minutos, da cobrança de escanteio de Khellven, Erick forçou Adryelson marcar contra. Aos 16 minutos, depois de bela jogada de Vitinho, Terans ofereceu para Vitor Roque voltar a marcar; e, aos 49, quando as primeiras lágrimas de Felipão começavam a ser choradas, Erick, em jogada rara, driblou a zaga e chutou no ângulo.

O cineasta alemão Werner Herzog em seu monumental livro “O Crespúculo do Mundo”, que conta a história de um soldado japonês que levou 30 anos para acreditar que a Segunda Guerra havia acabado, escreveu: “Fatos não criam a verdade. Mas eles nos dão uma direção, sabemos para onde temos que ir. É um processo ativo.”

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A goleada sobre o Botafogo, o jogo soberbo e a classificação para a Libertadores de 2023 analisados pela razão provaram de que o Athletico poderia ter uma grande conquista em 2022.

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