Alex e Zapelli, e quando as comparações são perigosas

Caminhando na praia, sou parado por um atleticano que queria saber o que penso da seguinte questão que discutiu com seus amigos: o meia Bruno Zapelli pode ser comparado ao Alex, dos coxas? Justificou a pergunta por entender que Zapelli tem o talento de Alex e é lento como foi Alex.
Sou um apaixonado por comparações. Para mim, passado e presente têm um vínculo indestrutível. Constituem a solidez da base da defesa dos valores que adquirimos na execução da vida. No futebol, as comparações são inevitáveis e obrigatórias. Elas são transformadas em premissas para tudo o que se diz de moderno. Às vezes, são premissas para conservar antigos modos de vida.
Como enfrentaria a questão desse atleticano nas areias do Atami, sob um sol de 40 graus: Zapelli pode ser comparado a Alex?
São incomparáveis, respondi. Não há nenhum elemento entre os dois que possa ser considerado para uma comparação.
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Alex não era lento. O que fazia era pensar e concluir o que fazer antes de receber a bola. Fazendo assim, não precisava forçar o seu ritmo natural para criar ou concluir jogadas. Era um ritmo futurista, virtude de raríssimos jogadores que, por terem um grau superior de inteligência, antecipavam a jogada futura. Como Ademir da Guia, Alex não entrava no que o imortal Armando Nogueira conceituou como “Comportamento de manada: “o bom jogador vê a jogada. O craque, antevê”.
E Bruno Zapelli, insistiu o atleticano.
Respondi que “Nada é bom ou mau se não for por comparação”, lição que aprendi lendo Thomas Fuller, “O Calculador da Virgínia”, escravo que provou aos americanos que há negros mais graduados em inteligência do que os brancos.
Alex nasceu craque, quis ser, e foi craque.
Por enquanto, Bruno Zapelli ainda não mostrou o que quer ser. Talvez, nem ele tenha consciência de que sabe jogar.
Encerrei a reunião com uma frase bem realista para ficar adequada à paixão e a ilusão do querer do torcedor: Alex e Zapelli são incomparáveis.