A torcida do Athletico virou mercadoria
Não me surpreendeu o fato de que 4.591 sócios deram uma procuração para Mario Celso Petraglia implementar a transformação do Athletico em Sociedade Anônima de Futebol. Foram motivados pela paixão que é dirigida pelo destino da bola.
Na prática, a procuração foi dada em causa própria para Petraglia, dispensando-o, inclusive, da prestação de contas. O ato da procuração ter sido passada ao Conselho Deliberativo foi artifício para dar aparência legal.
É que da maioria dos conselheiros nada se pode esperar, a não ser a submissão aos interesses de comando. Pode até ser que as razões de Petraglia sejam as melhores para o Athletico, mas, o fundamentalismo financeiro sobrepondo-se como imposição, esvazia a própria razão.
Esses sócios votaram desinteressados com o fato que de Petraglia, para construir o patrimônio do Athletico sem autorização, hipotecou o CT do Caju, deu de penhora a Baixada e concordou em tornar indisponíveis todos os ativos financeiros e direitos do clube. Se não estão tão penhorados, foi pela opção de natureza política do credor.
Coitado do clube que não cultiva as suas santas nostalgias, escreveu Nelson Rodrigues. A partir da escolha de 4.591 sócios, um público de decisão de suburbana, como se representasse a vontade de dois milhões de atleticanos, sem exigir um debate, a torcida já não tem mais nenhum poder sobre a vida do Athletico. Já não irá mais ser tratada como uma referência essencial, como uma correia de transmissão de empatia e de valores. Foi reduzida a um turista como se a Baixada fosse um parque temático. Foi transformada em mera consumidora de uma mercadoria que será vendida como Furacão.
Há histórias que precisam ser revistas e ficar à espera do último capítulo.