Leitores contam histórias sobre os velhos estádios de Curitiba

Ainda no finalzinho do ano passado, fiz um post sobre os estádios que não existem mais em Curitiba e chamei os leitores para contarem suas histórias ou acrescentarem algo ao assunto. Aqui estão as principais colaborações. Vale comentar que cada leitor é um livro de histórias prontas para serem registradas.


O Orestes Thá não existe mais como estádio de futebol, mas em seu lugar há o ginásio, a sede administrativa, os salões e parte do aparato social do Paraná Clube
Guilherme Costa Straube:
Excelente a idéia, de recuperar o passado do nosso futebol. Como pesquisador da história do Coritiba, queria fazer um adendo. O clube alugava o estádio do Parque Graciosa, mas em 1930 fez um acerto com o proprietário, da família Iwersen, que o ressarciu pelas benfeitorias, e com o dinheiro pagou a entrada do terreno no Alto da Glória. Até o Belfort Duarte estar pronto continuou usando o Parque Graciosa. Com o estádio pronto, quem passou a usar o estádio no Juvevê foi o Britânia, por muitos anos.
Arnaldo Rigon:
Na verdade o Britânia apenas usava um campo que ficava no Port?o para treino e eventuais jogos. O campo pertencia à indústria textil Ibicatu Agro Industrial S/A, que também possuia um time. Não era bem um estádio, mas era fechado e ficava no meio da primeira quadra da Rua Carlos Dietzsch, um lugar arborizado e belíssimo. Não era chamado de Fazendinha e o local nunca virou uma fábrica de Aniagem. Hoje neste espaço há alguns prédios e a tecelagem foi demolida para construir um supermercado.
Nota: aniagem é um tipo de tecido utilizado para a confecção de embalagens. Logo, por ser uma tecelagem, a aniagem poderia ser feita nela também. O estádio é referido como Fazendinha em alguns locais que pesquisei.
Aqui abaixo segue um relato completo de quem viveu a época em que muitos dos estádios citados viviam seu auge:
Helio Galvão Ciffoni:
Eu vi o meu primeiro jogo em Curitiba antes da minha família mudar-se para a capital, em 1968. Assisti em 1967 ao jogo Ferroviário e Palmeiras, pelo Robertão, na Vila Capanema. Acertei o bolão com a vitória de 4 a 2 para o Palmeiras, ao final com o Rinaldo perdendo um penalti, o que seria o quinto gol dos visitantes.
Antes do jogo, os jogadores do Bocanegra andavam com seus agasalhos em meio aos torcedores, perto do alambrado, sem o aquecimento, concentração e as preleções de hoje. Lembro-me bem do Padreco conversando perto de onde estávamos. Inesquecível um passe de letra do Ademir da Guia e o Palmeiras de 67 era quase uma seleção, assim como o Santos de 68.
Em 1968, já morando em Curitiba, meu primeiro jogo foi no Belfort Duarte, um amistoso entre Coritiba e Santos, com Atlético e Ferroviário fazendo a preliminar. O Atlético já estava formando o seu grande time e nesta partida lembro-me do Dorval mostrando todo o seu talento sobre o combalido Ferroviário que, nesta partida, tinha o goleiro Luiz Fernando substituindo o Paulista, em tratamento. Assisti ao lado de meu pai e meu tio, na curva de entrada e que tinha só um lance de escadas.
No Campeonato Paranaense de 68 eu passei por vários estádios da capital. Na primeira rodada, o Britânia estreeou contra o Ferroviário, mandando seu jogo no Orestes Thá e tomou 5 a zero. A zaga do Britânia tinha sido dispensada pelo Ferroviário e lembro-me do Pinheiro jogando na lateral. A segunda rodada teve Ferroviário metendo 4 a zero no Seleto, na Vila e este foi meu primeiro jogo noturno. Neste mesmo ano vi várias partidas do Atlético na Vila Capanema, além dos jogos do Ferroviário. Inclusive um dos atletibas foi disputado no Durival de Brito, 1 a zero para os coxas, gol de Coutinho, um ponta-direita que veio do Jandaia.
Assisti no mesmo ano a jogos no Joaquim Américo e lembro-me de Atlético e Primavera e de um fato engraçado: um torcedor jogou uma mimosa (uma tangerina, não sei se ainda chamam de mimosa em Curitiba, onde até cetra virou estilingue e raia é pipa, depois da “Globalização”). Voltando à mimosa, um jogador do Atlético pegou a mimosa e repartiu com o seu marcador, jogador do Primavera. Nesta época, nas acanhadas sociais do Atlético, jogava-se pó de arroz quando o time entrava em campo e um torcedor tinha uma cartola feita com a armação de um guarda-chuva.
Nunca fui ao campo do Primavera mas estreei como dente de leite do Ferroviário, em 1970, jogando contra o Britânia no Paula Soares e acertei uma bola na trave do gol de entrada, do lado da hoje Linha Verde. No campo do Juventus, na Carlos de Carvalho, assisti a um jogo do Campeonato Juvenil e no campo do Morgenau, assisti a jogos do time juvenil do Bloco, no tempo em que morei no Cristo Rei, na Rua Almirante Tamandaré, em 1968.
Como infanto-juvenil, já no Colorado, joguei na Vila Capanema algumas vezes, já que não tínhamos campeonatos regulares e uma dessas partidas foi um amistoso contra o São Paulo Futebol Clube, em janeiro de 72. Nessa época, o Colorado fazia os treinos de mirim, dente de leite e infanto-juvenil no campo da Praça Osvaldo Cruz, em frente ao CPOR, hoje Shopping Curitiba.
Não peguei o tempo de jogos no estádio do Palestra mas fui assíduo frequentador do período de glórias do Paraná Clube na Vila Olímpica e no Pinheirão. Quando o Paraná perdeu nos pênaltis a semifinal para o União, em 92, voltei a pé para casa do Pinheirão ao centro. Hoje sou sócio do camarote 21, 3o. piso na Vila Capanema mas vejo poucos jogos por ano, moro em Tóquio e vou a Curitiba 3 ou 4 vezes por ano. Acompanho o Paraná pelos jornais, rádio e TV pela web.