Clássico é clássico (ou, por que eu adoro Atletiba)

Há umas duas semanas, o pessoal da Trivela me mandou um e-mail pedindo minha participação na escolha dos maiores clássicos do futebol brasileiro e mundial. Eram 20 citações para cada categoria e o resultado deve ser publicado na edição de outubro da revista.

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Na hora de ranquear os dérbis brasileiros, não tive lá muita dúvida. Nem bem abri o formulário e já lasquei Grenal em primeiro e Atletiba em segundo. Corinthians x Palmeiras? Fla-Flu? Ficaram no top 10, mas nem de perto ameaçaram a hegemonia daqueles que eu chamo de os verdadeiros clássicos do futebol brasileiro.

O Grenal e Atletiba – que por obra da CBF, graça do Senhor e com uma mãozinha da TV serão disputados neste domingo em horários diferentes – reúnem todos os elementos para que uma partida mereça o carimbo de clássico com um C maiúsculo.

1) Rivalidade
Parece óbvio, mas não é. Um clássico que se preze exige rivalidade exclusiva. Você não pode ser rival de outro clube em nível igual ou semelhante ao do seu grande rival.

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Assim, clássicos em São Paulo e no Rio ficam severamente prejudicados. Corintianos são rivais de palmeirenses, são-paulinos e santistas; Flamenguistas são odiados por toda a sorte de time do Rio, do morto-vivo Ameriquinha ao eterno vice Vasco; do morto-vivo II Bangu ao choroso Botafogo; do simpático São Cristóvão ao pó-de-arroz Fluminense. E, vamos combinar, essa suruba toda não combina com a virilidade inerente a duelos de tamanha pegada.

Alguém vai alegar, até com relativa razão, que aqui em Curitiba temos o Paraná. Pois, que me desculpem os tricolores – e isso não diminui em nada a grandeza do clube –, mas o Paraná não é rival de Atlético e Coritiba na essência da palavra.

Foi nos anos 90, quando punha no bolso a “dupla melancia” (como dizem os desdenhosos). E é esporadicamente, quando Coxa e Furacão estão em divisões diferentes. Um estepe. Ainda falta ao Paranito tempo de estrada para requerer uma rivalidade pura. Mas ele ainda chega lá.

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2) Mobilização
Não se fala em outra coisa na cidade que não o Atletiba de domingo. Coxas contam os segundos para vingar a derrota em casa de 2005 e afundar o rival, embora, como bons coxas, sempre desconfiem que tudo pode dar errado. Atleticanos torcem por uma experiência pouco dolorosa, quem sabe um empate, embora, como bons atleticanos, sempre confiem em uma mágica jornada do seu time. Isso é clássico. Jogo que pára a cidade.

Lógico, em Porto Alegre é mais fácil. Só existe Grêmio e Inter. E, convenhamos, muito mais fácil parar uma cidade com dois campeões mundiais e título brasileiro em jogo. Mas não ficamos devendo nem um pouco para a gauchada.

3) Estádios diferentes
O internauta mais arisco já preparou uma lista generosa de clássicos que possuem as duas características acima, pronto para esfregá-la no nariz do blogueiro. Pois sinto informar que seu castelinho de areia vai ruir aqui mesmo.

Clássicos de verdade requerem estádios diferentes. Não dá para você ser um legítimo rival de quem joga semanalmente sob o mesmo teto que você. Ir à casa do inimigo faz parte do ambiente do dérbi.

Em Liverpool, azuis e vermelhos atravessam um enorme parque para ir de Anfield Road ao Goodison Park, e vice-versa. La Boca e Nuñez refletem muito da diferença história entre Boca Juniors e River Plate.

A sensação de ficar acoado em um canto do estádio, tendo apenas sua voz para brigar contra um coro 8 vezes maior e reforçado por instrumentos musicais é das melhores experiências do futebol. (Claro, desde que polícia, seguranças e anfitriões tenham o devido respeito com o visitante, algo que, convenhamos, anda difícil de acontecer)

E, acima de tudo, vencer o rival na casa alheia corresponde a dar um pega vigoroso naquela vizinha sarada no quarto dela enquanto pai da garota vê o boa noite do William Bonner e da Fátima Bernardes no sofá da sala crente de que a retaguarda está bem protegida.

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