Petraglia “prova” que torcida não ganha jogo; Felipão discorda. Mas pouco importa
Parece um despautério tratar de algo que rolou na semana passada. É compreensível, afinal, estamos na era do doomscrolling, do triunfo da algoritmização e do jornalismo em tempo real, sempre disposto a abrir uma live recheada de opiniões precipitadas (a especialidade deste blog) e apuração afobada sobre temas de pouca relevância. Ah, e se puder, clique no joinha, nos ajuda demais.
Eis que, logo após a vitória do Furacão ante o Libertad, sucesso que ressuscitou o conjunto vermelho e preto no modestíssimo grupo B da Libertadores, Mario Celso Petraglia, presidente do clube, clicou no microfoninho do WhatsApp e enviou áudios a um contato de confiança que, naturalmente, repassou o falatório para outro contato de confiança e, assim, sucessivamente até que todas as pessoas de confiança da rede ouvissem o conteúdo.
Basicamente, reflexões, no melhor estilo "quem sabe faz ao vivo", sobre a importância, ou não, da torcida no futebol. Sim, parece chocante, mas foi o que aconteceu. Em todo o caso, o cartola afirma que, veja só, "provou" que torcida não ganha jogo, ao contrário, só atrapalha. A prova: o bicampeonato da Sul-Americana, considerada pelo dirigente a "Segunda Divisão" da América, título vencido sem a presença dos atleticanos na Baixada, impedidos pela pandemia.
Para não derrubar, logo de cara, a "tese" de Petraglia, desconsideremos que, no duelo decisivo, contra a franquia brasileira da Red Bull, a torcida atleticana se fez ouvir por toda Montevidéu, colorindo em rubro-negro, o tanto quanto possível, o mítico Centenário, muito bem localizado na capital uruguaia, mas distante mais de 1.500 quilômetros de Curitiba. Faz de conta que foi tudo um grande delírio.
Vamos desconsiderar, também, que o "fator casa" é fundamental no futebol, que 10 entre 10 jogadores preferem atuar com o apoio de seus torcedores e, ainda, que o Athletico levantou seu título mais importante, o Brasileirão de 2001, no embalo da Baixada lotada. Deixemos de lado também que o clube passou a ser reconhecido, e temido, por todo o país, pelo bafo do Caldeirão do Diabo.
É o caso, por fim, de desconsiderar também a perspectiva de Luiz Felipe Scolari que, reiteradamente, tem pedido o apoio da torcida rubro-negra na campanha de recuperação da equipe na temporada. Por mais experiência que o gaúcho tenha, deixemos igualmente de lado o que o ex-técnico da seleção brasileira pensa para não esvaziarmos, de vez, o debate já um tanto vazio. E não queremos apelar para obviedades, certo?
O ponto fulcral, como diria aquele, é que o presidente do Athletico não pensa assim. Seria uma análise brutalmente superficial para quem, há 25 anos, lidera um "projeto", na falta de uma expressão melhor, que transformou o Furacão, de um clube de torcida grande, apaixonada e história riquíssima, em um time vencedor, de estrutura invejável, o preferido dos empolgadinhos do soccer business e influencers da bola.
Como sempre, Petraglia faz seu jogo de poder. E de interesses, como os que o levou a se aproximar e se afastar da torcida organizada em épocas de eleição. Desprezar a influência dos atleticanos nas arquibancadas, dos Fanáticos aos torcedores, digamos, "comuns", é só parte de uma narrativa, para usar a desgastada e já insuportável expressão, estratégia necessária para manter o poder absoluto no Joaquim Américo.
Já não cola mais.