Peço desculpas por voltar a um tema tão desagradável quanto a seleção brasileira, mas as notícias que vimos nos últimos dias envolvendo o escrete canarinho são bizarras e absurdas até para um país bizarro e absurdo como o nosso.
Primeiro, houve um princípio de levante dos jogadores contra
a realização da Copa América no país. Casemiro, capitão do time, deu uma
entrevista em que insinuava (sim, insinuava, porque jogador brasileiro está tão
treinado por assessores de imprensa que não tem mais a capacidade de dizer duas
palavras de modo direto e claro) que os jogadores poderiam se recusar a jogar a
competição.
Depois, veio a público o escândalo envolvendo acusações de assédio sexual contra o presidente da CBF, Rogério Caboclo, com direito a áudios comprometedores mostrados no Fantástico, da Rede Globo. O sujeito foi julgado pela Comissão de Ética da CBF – uma contradição em termos – e afastado por 30 dias.
Com um presidente afastado por suspeita de assédio sexual e
uma competição realizada às pressas em meio a uma epidemia que já matou quase
meio milhão de brasileiros, parecia a hora perfeita para os jogadores da
seleção fazerem o certo e saltarem dessa barca furada.
Mas não foi o que houve. Depois de muito pensar e discutir,
Casemiro, Tite e seus cordeirinhos decidiram jogar a Copa América. Mas que
ninguém pense que isso significa se curvar diante da todo-poderosa CBF, não:
esses bolcheviques das quatro linhas prometeram divulgar um “manifesto”, um
poderoso documento de condenação de recentes atitudes da CBF, que será
prontamente usado pela entidade como papel higiênico em sua nababesca sede na
Barra da Tijuca.
Poucas vezes vi algo tão patético.
Pensando bem, foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. Porque se Tite e os jogadores tivessem mandado a Copa América pro espaço, eu seria obrigado a admirá-los e, quem sabe, até voltar a nutrir alguma simpatia pela seleção.
Escrevo essa coluna na manhã de terça, 8 de junho de 2021. Abro o jornal (na web, claro) e leio que hoje tem jogo do Brasil pelas Eliminatórias da Copa do Mundo, contra o Paraguai. Pergunto para um amigo se ele sabia do jogo. “O quê? Jogo da seleção? HOJE?”