Estádio fechado, paixão e Pelé: por dentro do bairro Matute, o território do Alianza em Lima
Azul y blanco, y mucha pasión. Caminhar pelos arredores do Estádio Alejandro Villanueva, no bairro Matute, é conhecer um pouco da história do Alianza Lima, adversário do Athletico na estreia da Libertadores 2023. São 122 anos de vida do rival da primeira rodada da fase de grupos, atual bicampeão peruano.
As portas, porém, estão fechadas. Mesmo com incessantes pedidos da imprensa curitibana, o clube não permitiu nenhuma imagem ou visita rápida ao campo onde o Furacão vai dar o pontapé na jornada do principal torneio continental.
Durante o trajeto de San Isidro para o bairro Matute, que faz parte do distrito La Victoria, as recomendações se repetiam e até certo ponto causavam medo: “Tenha cuidado, olhe seus pertences”. Depois de encarar um trânsito insano sob 30 graus, assim que pisei na Avenida Isabel la Católica, em meio a buzinas que pareciam anunciar um cenário de caos, era hora de conhecer os arredores da casa dos aliancistas.
É difícil encontrar algum poste sem algum desenho do escudo azul e branco. Um território marcado e que avisa em seus muros (“los murales”): “El más popular de Peru”. Ouvi que o bairro já foi bem mais perigoso, mas em nenhum momento me senti amedrontada na região. Pelo contrário: quando abordava alguém na rua para perguntar qualquer coisa e gastar o espanhol, fui atendida com muita hospitalidade, atenção e sorrisos ao me apresentar como brasileira. Lima já havia me abraçado no Domingo de Ramos.
Duelo contra El Paranaense
Alfredo Del Valle, de 68 anos, folheava o jornal El Diez em frente à bilheteria principal do Alejandro Villanueva. A manchete “Se sienten gigantes” trazia uma reportagem do Athletico, destacando o sonho de conquistar a Libertadores e o duelo contra o Alianza Lima.
“Vai ser um grande jogo, porque o Brasil tem uma grande escola. Temos que nos impor em casa. Tomara que a gente ganhe, não importa o resultado, 1 a 0 já está muito bom. É um grupo muito complicado", disse.
O torcedor Manuel Cordero, que almoçava no “Mi Barrunto”, tradicional cevichería nos arredores do estádio, foi categórico ao se apresentar como torcedor do Alianza.
“Aqui nós morremos por Alianza. O clube tem se reforçado, trouxe jogadores como Cueva e Zambrano, então penso que sim, é possível vencer o Paranaense. Aposto em 2 a 1 para nós”.
Pelé e Maradona no mesmo local
Em frente ao estádio, o restaurante El Veridico convida para almoços e lanches rápidos. Avisada por um vendedor de camisetas do Alianza do lado de fora, entro para conferir as fotos que estampam o local. Dentre delas, duas em especial chamam a atenção: Pelé e Maradona.
Henry Fidel, que toca o estabelecimento de seu pai, conta a particularidade das imagens. Na primeira, Pelé posa ao lado de Pedro Pablo León, ídolo do Alianza, mais conhecido como Perico. E Maradona aparece com César Cueto, um dos principais nomes da história do clube, hoje com 70 anos. Foi Cueto que presenteou as imagens com o amigo e pai de Henry, há 15 anos. As fotos foram devidamente ampliadas e emolduradas para dar um toque especial às paredes do restaurante.
Acidente aéreo e morte de promessas: tragédias que dilaceram o coração aliancista
Oito de dezembro de 1987. Essa é a data mais triste da história do Alianza Lima, e que ainda traz muita dor ao povo peruano. Um desastre aéreo vitimou jogadores, comissão técnica, dirigentes e torcedores, após um avião Fokker F27 (prefixo AE-560) cair no mar, entre o distrito de Ventanilla e a cidade de Callao, no Peru. Quarenta e três pessoas morreram na tragédia.
O Alianza era líder do Campeonato Peruano antes do acidente. Na véspera, o clube tinha viajado para Pucallpa, onde enfrentaria o Deportivo - venceu por 1 a 0. Na volta, a aeronave caiu no mar, a poucos quilômetros do Aeroporto Internacional Jorge Chávez, no distrito de Ventanilla. Com o impacto, o avião se partiu e a fuselagem afundou. Apenas o tenente Edilberto Villar Molina, que pilotava o avião, sobreviveu.
Após a tragédia, o Alianza precisou recorrer a jogadores da base e "desaposentar" ídolos como Teófilo Cubillas e César Cueto, além de emprestar atletas do Colo-Colo para encerrar o campeonato, que terminou com título do rival Universitario.
Outro capítulo que provoca tristeza nos torcedores do Alianza é a morte de Sandro Baylón - promessa do futebol peruano. Ele era capitão da seleção sub-23, e morreu em um acidente de carro em 2000, na virada do ano, quando tinha apenas 22 anos. Na ocasião, o jogador dirigia a 130 km/h, se distraiu com o celular e perdeu o controle da direção do veículo.
Revelado na base do Alianza, Baylón tinha uma grande projeção internacional e tinha despertado o interesse do Werder Bremen um ano antes da tragédia.
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